Por Howard Schneider e Ann Saphir
WASHINGTON (Reuters) - Autoridades do Federal Reserve (Fed) dobraram nesta quarta-feira os esforços para convencer investidores de que o banco central manterá a política monetária acomodatícia por anos para permitir a queda do desemprego, enfatizando que as taxas de juros ficarão próximas de zero até que a inflação chegue a 2% e aí permaneça.
O comitê de política monetária do Fed fez essa promessa na semana passada em sua reunião regular, prometendo deixar as taxas em seus atuais níveis próximos de zero até que a economia alcance pleno emprego, a inflação suba para 2% e esteja a caminho de ultrapassar moderadamente esse nível.
Tanto o vice-chair do Fed, Richard Clarida, quanto o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, foram claros nesta quarta-feira: as taxas não vão aumentar até que os mercados de trabalho se recuperem totalmente da crise econômica causada pelo coronavírus e os preços atinjam a meta do Fed.
"As taxas estarão no nível atual, que é basicamente zero, até que a inflação real observada pelo PCE alcance 2%", disse Clarida à Bloomberg Television, referindo-se ao índice de preços preferido pelo Fed.
"Isso é 'pelo menos'. Poderíamos realmente manter as taxas neste nível para além", disse Clarida. "Mas não vamos nem começar a pensar em elevar (os juros), esperamos, até que tenhamos uma inflação observada... igual a 2%."
Quanto um "overshoot" (inflação acima da meta) para além desse patamar seria tolerável é uma discussão "acadêmica" até que a economia se recupere, disse Clarida.
Evans, por sua vez, não foi tímido. "Não temo uma inflação de 2,5%", disse ele, observando que quanto menor a tolerância para um "overshoot" da inflação, mais tempo levará para o Fed cumprir sua meta de inflação média de 2%.
Apesar disso, disse, o Fed não aumentará as taxas até que a inflação chegue a 2% de forma sustentável e que o banco central esteja confiante que ultrapassará essa meta --condições que não serão atendidas antes do final de 2023.
O presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, disse que pode demorar mais para o banco central cumprir essa meta se as infecções de coronavírus aumentarem no outono e inverno (nos EUA), levando a um crescimento econômico mais lento.
"Teremos sorte se conseguirmos 2% de inflação dentro de quatro anos", disse Rosengren durante fórum virtual organizado pelo Boston Economic Club.
No entanto, investidores ficaram desapontados com o fato de o Fed não ter reforçado sua nova promessa ao aumentar suas compras de títulos, o que derrubou os principais índices de Wall Street.
O Fed cortou as taxas para quase zero em março e adotou outras medidas para combater a recessão que se instalou à medida que as empresas fechavam e os consumidores ficavam em casa para conter a disseminação do coronavírus.
Apesar de alguma recuperação da crise econômica, "há um longo caminho a percorrer", disse o chair do Fed, Jerome Powell, ao Congresso, com milhões de pessoas ainda desempregadas em comparação à situação da economia em fevereiro.
"Precisamos continuar com isso... A recuperação será mais rápida se houver apoio tanto do Congresso quanto do Fed."
Vários formuladores de política econômica têm dito que mais ajuda governamental do Congresso é necessária, com Clarida enfatizando que a economia dos EUA pode sair do atual "buraco profundo" de desemprego e fraca demanda em talvez três anos.
(Reportagem de Howard Schneider)