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Haddad contesta BC e diz que inflação não está desancorando

Publicado 22.05.2024, 14:01
© Reuters

(Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira que não há "nada desancorando" em relação à inflação no Brasil e afirmou que a queda dos índices de preços é "mais dramática" do que o Banco Central reconhece.

"Se você desconsidera a questão de desoneração de combustível, e verifica a curva de queda da inflação, a queda da inflação é mais dramática que o próprio Banco Central reconhece", afirmou Haddad ao responder a perguntas de parlamentares em sessão da Comissão da Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

Em 2022, para segurar os preços dos combustíveis em ano eleitoral, o governo Bolsonaro desonerou temporariamente os combustíveis, o que teve impacto sobre os índices de inflação. O produto foi reonerado gradualmente a partir de 2023.

"Eu estou falando isso para estimular o BC a olhar a inflação corrente por este prisma, e verificar que não tem nada desancorando. Não tem", disse Haddad aos parlamentares.

"Talvez por falhas de comunicação, esteja havendo uma desancoragem, mas não pela realidade. A realidade da inflação no Brasil é melhor do que parece. A realidade fiscal do Brasil é melhor do que parece", defendeu.

As ponderações foram feitas pelo ministro após ele ter elogiado a gestão da política monetária em sua fala inicial na comissão. "O trabalho que foi feito de política monetária para fazer a inflação cair foi muito melhor do que a gente imagina", afirmou.

Os comentários de Haddad surgem em um momento de encruzilhada para o Banco Central, em que a maior parte do mercado projeta que a taxa básica Selic, hoje em 10,50% ao ano, não passará por mais cortes. Um dos motivos é justamente a desancoragem de expectativas, na visão do BC e de uma parcela dos economistas de mercado.

O relatório Focus mais recente indica que a mediana das projeções do mercado para o IPCA -- o índice oficial de inflação -- está em 3,80% para 2024 e em 3,74% para 2025. O centro da meta de inflação para ambos os anos é de 3%.

"Se o Brasil está com dificuldade de cumprir meta mais baixa, e a inflação fica insensível a taxas de juros, temos que pensar as questões institucionais", ponderou Haddad aos deputados, acrescentando que uma das principais questões institucionais é o quadro fiscal.

"Meta de inflação de 3% é ousada para histórico do Brasil. Se queremos perseguir esta meta, temos que abrir este debate", acrescentou Haddad, sem se aprofundar na questão.

O ministro fez ainda referência à divisão entre os dirigentes do BC no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), quando cinco deles votaram por corte de apenas 25 pontos-base da Selic, enquanto outros quatro defenderam redução de 50 pontos-base.

Os quatro diretores que votaram por corte maior foram indicados pelo governo Lula. Haddad contestou a ideia de que eles seriam lenientes com a inflação.

"Por que os diretores do Lula (no BC) são lenientes com a inflação? Porque seguiram o comunicado anterior (do Copom)?", questionou Haddad.

No comunicado citado pelo ministro, de maio, o Copom havia estabelecido um forward guidance (indicação futura) de corte de 50 pontos-base da Selic. Na decisão mais recente, a maioria do colegiado optou por ignorar esta indicação, enquanto os dirigentes indicados por Lula -- vencidos no voto -- defendiam que o guidance fosse cumprido.

TRAGÉDIA NO SUL

Durante a sessão, Haddad também demonstrou preocupação com a tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul e seus impactos sobre a economia.

© Reuters. Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concede entrevista a jornalistas em Brasília
03/04/2023
REUTERS/Ueslei Marcelino

"Óbvio que eu estou preocupado. Desde o episódio do Rio Grande do Sul, eu durmo menos", afirmou o ministro. "Fico pensando os próximos passos. O que vai acontecer com a receita federal que vem do RS? O que vai acontecer com a receita estadual que vai para o governo do Estado? O que vai acontecer com os municípios?", pontuou.

Haddad afirmou que os resultados do terceiro trimestre do ano preocupam, justamente por conta do RS. Ao mesmo tempo, ele disse acreditar que a economia do Estado terá uma recuperação mais rápida do que os economistas estão esperando.

(Por Fabrício de Castro, de São Paulo; reportagem adicional de Victor Borges, de Brasília)

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