Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - De relance, o Federal Reserve estabeleceu um parâmetro elevado para qualquer alteração na taxa de juros este ano: seria necessária uma "reavaliação material" das perspectivas econômicas, conforme estabelecido pelo chairman do banco central norte-americano, Jerome Powell.
Desde a introdução dessa idéia em outubro, quando ele interrompeu o ciclo de corte de juros do ano passado, o próprio Powell pronunciou o termo pelo menos meia dúzia de vezes, e a frase também tem sido usada por outras autoridades.
Mas uma análise mais atenta revela distinções significativas entre os 17 reguladores do Fed sobre o que significa "reavaliação material". E isso pode complicar os esforços para entender o que pode levar à próxima mudança nas taxas, à medida que dados econômicos são divulgados em meio à campanha eleitoral norte-americana.
Choques óbvios serão importantes, e a forte mudança nos mercados após um surto de coronavírus na China mostra o quão rápido eventos inesperados podem começar a remodelar as perspectivas. Os principais índices de ações caíram acentuadamente na segunda-feira, os preços do petróleo e o dólar subiram, e analistas econômicos viram um possível impacto no crescimento econômico chinês e, possivelmente, no global, em meio ao aumento do número de mortos e ao isolamento de cidades.
Os spreads entre títulos do governo observados com cuidado se estreitaram e os investidores começaram a avançar com suas estimativas de um movimento na taxa de juros do Fed, com chances agora de praticamente 50% de que o banco central cortará o custo dos empréstimos novamente até o final de junho.
O que convencerá as autoridades individualmente, no entanto, varia muito.
Será o comportamento do consumidor o indicador óbvio, como pensa o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic? Isso deixaria os juros em espera enquanto as pessoas continuarem gastando.
Ou, como argumenta o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, o fracasso dos salários em crescer mais rapidamente seria um sinal de que a economia está enfraquecendo e é suficiente para garantir mais cortes na taxa?
E se a inflação permanecer abaixo da meta de 2% do Fed? Isso justificaria um corte na taxa na esperança de levantar os preços? O presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, sugere isso, chamando-o de "tema unificador do Fed ... Que a inflação) precisa melhorar".
Não tão rápido, diz Loretta Mester, presidente do Fed de Cleveland. "Neste momento, eu não gostaria de tomar medidas deliberadas apenas para tentar recuperar a inflação", disse ela em entrevista recente.
Mester está preocupada com a possibilidade de os três cortes de juros do ano passado incentivarem famílias, empresas e investidores a tomar riscos excessivos, aproveitando o crédito barato. Por outro lado, uma "deterioração" das atitudes do público em relação à inflação pode fazê-la mudar de idéia.
As autoridades do Fed continuarão seu debate quando se reunirem nesta terça-feira para a primeira reunião de política monetária do ano. Os mercados financeiros não esperam que o Fed mude sua taxa básica de juros no final da reunião na quarta-feira.
Os dados econômicos desde a última reunião do Fed, em dezembro, reforçaram a visão de consenso do banco central sobre uma economia que continuará avançando, embora alguns números tenham sido desiguais.
Os empregos de dezembro e os gastos de varejo foram saudáveis, por exemplo, mas as perspectivas dos gerentes de compras para a indústria foram ruins pelo quinto mês consecutivo. Espera-se um crescimento geral de cerca de 2% no ano.