SÃO PAULO (Reuters) - A joint venture entre Cielo e Banco do Brasil foi uma ideia que surgiu em meio às especulações de que o banco estatal poderia cindir sua área de cartões e transformá-la numa empresa independente listada em bolsa, disse nesta quinta-feira o presidente da Cielo, Rômulo Dias.
"Começamos a conversar em março, quando havia essas especulações", disse Dias em teleconferência com jornalistas para comentar a formação da joint venture anunciada na quarta-feira à noite.
A nova empresa, que ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do Banco Central para ser efetivada, é avaliada em 11,6 bilhões de reais e vai gerir os negócios com cartões de crédito e de débito do BB.
Desde o ano passado, profissionais do mercado discutiam se o BB faria com a área de cartões algo semelhante com sua área de seguros, que cindiu, criando a BB Seguridade, listada na Bovespa em 2013, o que o banco estatal negava.
Nenhum porta-voz do BB respondeu imediatamente a pedidos de comentários.
A Cielo, maior rede adquirente do país, com cerca de 54 por cento do mercado, vai aportar 8,1 bilhões de reais na operação e o financiamento será feito por meio da emissão de debêntures de 10 anos. O endividamento bruto da Cielo sai de 2,2 bilhões para 10,1 bilhões de reais.
Segundo Dias, a nova companhia não terá nenhuma receita financeira oriunda dessa emissão, já que os recursos serão repassados ao BB.
Com o aporte que será feito na joint venture, o endividamento líquido da Cielo passará do equivalente a 0,6 vez o Ebitda (na sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), para 1,6 vez em base ajustada.
Como consequência, a Cielo vai propor alteração do seu estatuto social para reduzir o dividendo mínimo de 50 para 30 por cento dos lucros para, com isso, buscar reduzir seu endividamento.
O capital social da nova sociedade será dividido em 30 por cento para o BB Elo Cartões, subsidiária integral do Banco do Brasil, e 70 por cento para a Cielo. Como o BB tem uma participação indireta na Cielo, por meio do BB Banco de Investimento S.A., ficará com uma participação no capital da nova empresa de 50,05 por cento.
Segundo Dias, o lucro líquido proforma da joint venture, que deve nascer com cerca de 500 funcionários, foi de 578 milhões de reais em 12 meses até setembro. Numa base proforma, o lucro líquido da joint venture no terceiro trimestre foi 20 por cento maior do que em igual etapa de 2013, embora não tenha revelado os números.
De acordo com o executivo, outros bancos emissores serão consultados pela joint venture, mas outras parcerias podem ter desenhos distintos da feita com o BB. O Bradesco, outro sócio relevante da Cielo, está fora de um acordo pelo menos por enquanto, já que tem um acordo em emissão de cartões com a Fidelity.
(Por Aluísio Alves)