Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Uma "persistente" deterioração fiscal poderia levar o Banco Central a reduzir o orçamento de afrouxamento monetário esperado para até o fim do ano, apesar da profundidade da recessão econômica e do consequente aumento da capacidade ociosa da economia exercer pressão de baixa sobre as estimativas de inflação, disse Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco.
Ele ponderou, contudo, que esse é um cenário alternativo do Itaú. No básico, o BC corta a Selic até 2,50% até o término do ano.
O Itaú projeta que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduzirá os juros em 50 pontos-base nesta semana, para nova mínima recorde de 3,25% ao ano. O comunicado, porém, deverá sinalizar "cautela quanto a movimentos adicionais", em parte pela deterioração da trajetória fiscal na esteira do aumento de gastos para enfrentamento dos efeitos da pandemia.
No caso de uma piora "persistente" na direção das contas públicas, Gonçalves avaliou que isso poderia ensejar um "esgotamento" da possibilidade de cortes posteriores de juros.
"No nosso cenário alternativo, há o risco de haver menos cortes de juros do que esperamos", afirmou.
Pelo cenário básico do Itaú, a Selic deve cair a 2,50% ao fim deste ano, mas ainda há incertezas sobre como se daria a redução total de 75 pontos-base após a de 50 pontos-base prevista para esta semana.
A curva de DI embutia na véspera flexibilização de 57 pontos-base nesta semana e de 29 pontos-base em junho. FRAs de DI apontavam Selic média em dezembro em torno de 2,75%.
O juro básico está em 3,75% ao ano, piso histórico.
Gonçalves disse que, dadas as diferenças em relação a países do mundo desenvolvido (entre as quais o maior risco de dívida soberana), o "lower bound" para os juros no Brasil --abaixo do qual a política monetária deixaria de ser efetiva em estimular a economia-- "talvez seja um pouco acima de zero".
"Isso pode tornar muito difícil que a gente se aproxime de um juro (nominal) zero", afirmou.