Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil registrou deflação em abril, com o índice de preços no menor patamar em mais de duas décadas, uma vez que o recuo de quase 10% dos combustíveis compensou a alta da alimentação no domicílio em meio ao isolamento diante do coronavírus.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,31% em abril, ante variação positiva de 0,07% em março, de acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Essa foi a primeira taxa negativa do IPCA desde setembro de 2019, e a variação mensal mais fraca desde a queda de 0,51% vista em agosto de 1998.
Em 12 meses, a inflação acumulada foi a 2,40%, de 3,30% antes. Assim, vai abaixo do piso da meta de inflação para este ano, de 4% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de recuo de 0,20% na variação mensal e alta de 2,49% em 12 meses.
As paralisações e o isolamento adotados como medida de contenção do novo coronavírus, bem como a queda do petróleo no mercado internacional vêm registrando pressões divergentes na inflação brasileira.
Ao mesmo tempo em que a escassez da demanda contribui para reduzir os preços dos combustíveis, os custos de alimentação passaram a subir mais.
Os Transportes tiveram a maior queda em abril, de 2,66%, pressionado principalmente pela deflação de 9,59% dos combustíveis. Somente a gasolina teve queda de 9,31% nos preços, exercendo o maior impacto negativo individual no índice.
De acordo com o IBGE, no período de coleta dos dados para a pesquisa houve dois anúncios de diminuição no preço da gasolina. Etanol (-13,51%), óleo diesel (-6,09%) e gás veicular (-0,79%) também apresentaram deflações em abril.
"O maior impacto para a deflação vem dos combustíveis, que têm por trás a queda do Brent e uma disputa por oferta no cenário internacional. Mas tem também um efeito indireto da pandemia por conta da menor demanda por derivados", explicou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
O grupo dos Artigos de residência apresentou a segunda maior variação negativa no índice do mês, com queda de 1,37%. Ainda se destacam as quedas de 0,22% de Saúde e Cuidados Pessoais, 0,14% de Despesas Pessoais, 0,20% de Comunicação e 0,10% em Habitação.
ALIMENTOS
Na outra ponta, Alimentação e Bebidas acelerou a alta de 1,13% em março a 1,79% em abril, com a alimentação no domicílio subindo 2,24%, de 1,40% no mês anterior.
Os destaques entre as altas ficaram para cebola (34,83%), batata-inglesa (22,81%), feijão-carioca (17,29%) e leite longa vida (9,59%).
"Estamos sentindo esse efeito da pandemia, vimos pressão sobre alimentos em sentindo de alta", completou Kislanov. "Teve menor oferta de produtos também em abril por problemas climáticos, e maior demanda das pessoas que estão em casa confinadas."
O Banco Central decidiu na quarta-feira reduzir a taxa básica de juros Selic acima do esperado, à mínima histórica de 3% ao ano, e sinalizou um último corte à frente para complementar o estímulo monetário necessário em meio aos impactos da pandemia de coronavírus na economia.
A pesquisa Focus realizada pelo BC com economistas mostra que a expectativa para este ano é de inflação de 1,97%, com a economia contraindo 3,76%.