Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção industrial brasileira recuou com mais força do que o esperado em março, marcando o pior desempenho para esses meses e com fortes perdas generalizadas que destacam a dificuldade de retomada após dois anos de profunda recessão da economia brasileira.
A produção despencou 1,8 por cento em março na comparação com o mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, contra expectativa em pesquisa da Reuters de recuo de 1,0 por cento.
Trata-se do pior resultado mensal desde a queda de 3,3 por cento em agosto do ano passado e a leitura mais fraca para março na série histórica iniciada em 2002.
O IBGE revisou ainda o dado mensal de fevereiro para estagnação da produção, após divulgar aumento de 0,1 por cento. O recuo de janeiro também piorou, a 0,4 por cento, sobre queda de 0,2 por cento antes.
"O mercado doméstico ainda tem dificuldade com o número elevado de desocupados, com o rendimento desfavorável, com o comprometimento de renda e a inadimplência", afirmou o economista do IBGE André Macedo. "Pelo lado das empresas, há ainda uma ajuste de estoque a ser realizado", acrescentou.
Sobre um ano antes, houve aumento de 1,1 por cento na produção em março, resultado também bem abaixo da alta de 2,1 por cento esperado por economistas.
Todas as categorias apresentaram perdas em fevereiro, com o pior desempenho em Bens de Consumo duráveis, de 8,5 por cento, perda mais forte desde junho de 2015 (-13,2 por cento) e pressionada pela redução da produção de eletrodomésticos da linha marrom e automóveis.
Já Bens de Capital, uma medida de investimento, teve queda de 2,5 por cento da produção em março sobre fevereiro, mesma taxa registrada por bens Intermediários.
O maior impacto negativo entre foi exercido por veículos automotores, reboques e carrocerias, com queda da produção de 7,5 por cento. Dos 24 ramos pesquisados, 15 recuaram.
Também se destacaram as quedas de 23,8 por cento na produção de produtos farmoquímicos e farmacêuticos e de 3,3 por cento em coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis.
Apesar da série de maus resultados da produção industrial nos três primeiros meses do ano, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) aponta em que em abril o setor voltou a registrar expansão pela primeira vez em pouco mais de dois anos devido ao aumento do volume de novos pedidos.
Também em abril, a confiança da indústria brasileira medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV) voltou a melhorar, mantendo-se no maior nível em três anos.