Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A indústria brasileira mostrou expansão de forma generalizada e cresceu mais do que o esperado em maio, no melhor resultado para o mês em seis anos mas que pode não prosseguir por causa da forte turbulência política que atingiu o governo do presidente Michel Temer.
Em maio, a produção industrial subiu 0,8 por cento sobre abril, melhor desempenho para o mês desde a alta de 2,7 por cento em 2011, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira. Na comparação anual, o avanço foi de 4 por cento, mais forte desde fevereiro de 2014 (4,8 por cento).
Ambos os resultados ficaram acima das expectativas em pesquisa da Reuters com economistas, de alta de 0,6 na variação mensal e de 3,05 por cento na base anual.
"Há nitidamente uma melhora de ritmo da indústria com duas altas seguidas que repõem a perda de março (de 1,6 por cento). Houve um perfil disseminado de aumento da produção ,mas ainda estamos longe de recuperar o que se perdeu", avaliou o economista do IBGE André Macedo. No acumulado em 12 meses até maio, a produção tem queda de 2,4 por cento.
Em maio, todas as categorias apresentaram ganhos, com destaque bens de consumo duráveis (6,7 por cento) e bens de capital, um indicador de investimento, com avanço de 3,5 por cento na comparação com abril.
Entre os 24 ramos pesquisados pelo IBGE, 17 deles tiveram aumento de produção, sendo a maior influência positiva a alta de 9 por cento registrada por veículos automotores, reboques e carrocerias, devido em grande parte à maior fabricação de automóveis e caminhões. Esse resultado foi o mais forte para esse segmento desde dezembro de 2016 (10,4 por cento), segundo o IBGE.
Apesar da melhora em abril e maio, a produção industrial pode ainda sofrer revés diante as incertezas políticas que assolam o Brasil, após delações de executivos do grupo J&F que atingiram Temer em meados de maio, e elevaram os temores de que a reforma da Previdência possa não ser aprovada no Congresso Nacional.
"É importante lembrar que até maio as coisas iam bem para a indústria, mas a pesquisa não captou ainda esse momento conturbado do país que se agravou em junho", completou Macedo.
Indício disso veio do índice de confiança da indústria medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que em junho interrompeu série de três altas e caiu para o menor nível em quatro meses.