Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A pandemia de coronavírus atingiu em cheio a produção industrial do Brasil em abril, provocando queda histórica na comparação com o mês anterior, em meio ao fechamento generalizado de unidades produtivas no país devido às medidas para conter a disseminação do vírus.
Em abril, a produção da indústria despencou 18,8% em relação a março, com a intensificação das restrições de circulação paralisando fábricas e mantendo as pessoas em quarentena em casa.
Essa é a queda mais forte na série histórica iniciada em 2002, e soma-se às já fortes perdas de 9,0% em março, acumulando nesse período contração de 26,1%.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou ainda que, na comparação com abril do ano passado, a produção teve recuo de 27,2%, sexta queda consecutiva e também recorde negativo da série histórica nessa comparação.
A contração, entretanto, foi menor do que a expectativa em pesquisa da Reuters com economistas, de quedas de 29,2% na variação mensal e de 33,1% na base anual.
Depois de dois meses de ganhos no início do ano, a indústria brasileira naufragou com as férias coletivas, paralisações, redução da demanda e isolamento social adotados como medida de contenção à pandemia, e os resultados negativos ainda devem se prolongar.
"Maio é o mês que tem maior presença de empresas fazendo interrupção e paradas, mas é claro que o setor industrial está fora do seu habitual por conta da pandemia e uma interrupção clara na indústria. É um movimento importante de perda de ritmo", explicou o gerente da pesquisa, André Macedo.
"É o pior momento da indústria brasileira. O que dá para dizer é que, com o que já foi observado e com dados prévios, a indústria está totalmente fora de seu padrão e de sua rotina usual", completou.
O mercado já prevê contração de 3,59% da produção industrial este ano, com a economia como um todo retraindo 6,25%, de acordo com a mais recente pesquisa Focus do Banco Central.
Em abril, todas as quatro categorias econômicas apresentaram recuos acentuados, com a produção de Bens de Consumo Duráveis despencado 79,6%, em grande parte pela menor fabricação de automóveis, e de Bens de Consumo Semi e não-Duráveis caindo 12,4%.
A produção de Bens de Capital teve contração de 41,5% em abril, enquanto a de Bens Intermediários caiu 14,8% sobre o mês anterior. Todas marcaram os resultados mais fracos de suas séries históricas.
"Muito dessa queda intensa e espalhamento é fruto do isolamento social por conta da pandemia. Muitas plantas pararam a produção e fizeram paralisações, afetando a produção industrial", disse Macedo.
Dos 26 ramos pesquisados, a produção caiu em 22, sendo que somente o ramo de veículos automotores, reboques e carrocerias apresentou perdas de 88,5% em meio às paralisações em várias unidades produtivas.
Também se destacaram as perdas na fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-18,4%), de metalurgia (-28,8%), de máquinas e equipamentos (-30,8%), de bebidas (-37,6%) e de produtos de borracha e de material plástico (-25,8%).
Por outro lado, a produção aumentou em itens essenciais, com destaque em produtos alimentícios (3,3%) e produtos com ambos voltando a crescer após quedas no mês anterior.
"Todos têm ligação com o isolamento social. Alimentos repõem perda do mês anterior e os destaques foram a produção de açúcar com início de safra mais cedo na região centro-sul. Tem também ligação com o consumo doméstico maior como carnes de aves e bovinas impulsando a produção", completou Macedo.
No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto brasileiro contraiu 1,5%, sendo que somente a indústria recuou 1,4%.