Uma possível desaceleração dos cortes na Selic, a taxa básica de juros, dividem as projeções do mercado financeiro. Dos 11 analistas e instituições financeiras consultados pelo Poder360, 6 falam que o BC (Banco Central) finalizará o ciclo de reduções de meio p.p (ponto percentual) no patamar a partir de 4ª feira (8.mai.2024). Dessa forma, a queda seria de 0,25 p.p. e o indicador ficaria em 10,50% ao ano.
A autoridade monetária havia indicado em março que a reunião de 4ª feira (8.mai) seria a última com queda de 0,50 p.p. Assim, esperava-se que a Selic ficasse em 10,25%. A intensidade dos cortes iria diminuir só a partir de junho.
Entretanto, 2 fatores centrais podem antecipar a redução:
- 1) a mudança na meta fiscal pela equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad; e
- 2) a manutenção dos juros no intervalo de 5,25% a 5,50% pela 6ª vez pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
As instituições que projetam a diminuição no patamar dos cortes a partir de 8 de maio citam as incertezas nacionais e internacionais como justificativa para a estimativa.
“As perspectivas de inflação estão mais desafiadoras devido a razões internacionais e locais. Assim, parece razoável esperar uma condução mais gradual da flexibilização monetária”, diz um relatório da XP (BVMF:XPBR31) publicado na 6ª feira (3.abr).
Também mencionam discursos recentes do Banco Central. O presidente da autoridade, Roberto Campos Neto, tem sido crítico sobre a mudança de meta fiscal pelo governo.
A equipe econômica de Lula propôs ter um superavit primário de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2025. Mas, depois, mudou para um deficit zero no período –o mesmo objetivo de 2024.
Na prática, o governo atrasou um resultado que seria mais favorável para o equilíbrio das contas públicas.
Campos Neto tem defendido que a política monetária anda em conjunto com a política fiscal. O economista disse no dia de alteração da meta que “o ideal não é mudar e sim garantir que haverá todo o esforço possível para atingi-la”.
A política monetária e fiscal são diferentes. Entenda abaixo:
- monetária – controle da oferta de dinheiro e taxas de juros pelo Banco Central para regular a atividade econômica;
- fiscal – decisões do governo sobre gastos e arrecadação com impostos para influenciar a economia.
“Fizemos uma correção [monetária] grande, só que se a gente precisava fazer, vamos dizer assim, uma correção fiscal […] Se a gente perde a âncora fiscal, o trabalho monetário fica mais difícil de fazer”, declarou o presidente do BC em 29 de abril.
O Boletim Focus projeta que a Selic continue com o ritmo de meio ponto percentual em maio. O relatório mais recente do Banco Central, entretanto, trazia as perspectivas do mercado financeiro em 26 de abril.
A SELIC
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Influencia diretamente as alíquotas de empréstimos, financiamentos e investimentos. No mercado financeiro, impacta o rendimento de aplicações.
O Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu por unanimidade o juro base de 11,25% ao ano para 10,75% ao ano em 20 de março. A taxa atingiu o menor nível em 2 anos, quando estava no mesmo patamar. Foi o 6º corte seguido.
Leia abaixo o histórico da Selic:
Antes do ciclo de reduções, a Selic passou 12 meses em 13,75% ao ano. A razão pela manutenção da taxa em patamares mais elevados é o controle da inflação. O crédito mais caro desacelera o consumo e a produção. Como consequência, os preços tendem a não aumentar de forma tão rápida.
A relutância da autoridade monetária em cortar logo os juros foi alvo de críticas de integrantes e aliados do governo Lula.
O petista e seus apoiadores reclamam dos patamares da taxa mesmo com os cortes graduais. Dizem não haver necessidade de mais controle da inflação. Se houver um corte menor, como parte do mercado espera, os bombardeios devem se intensificar.
Como mostrou o Poder360, para a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), se a redução for de 0,25 p.p, mostrará a “atuação política” de Campos Neto. Já o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que o economista tenta “atrapalhar o governo”.
Desde que assumiu o Planalto em 2023, Lula reclama dos juros elevados. As críticas continuaram mesmo depois do início dos cortes na Selic. O presidente disse em 11 de março que Campos Neto contribui para um “atraso monetário” no Brasil.
“Não tem nenhuma explicação os juros da taxa Selic estarem a 11,25%. Não existe nenhuma explicação econômica, nenhuma explicação inflacionária. Não existe nada a não ser a teimosia do presidente do Banco Central em manter essa taxa de juros”, declarou Lula em entrevista ao SBT.
O petista argumenta que o país precisa de juros mais baixo para que a economia se mova de forma mais intensa.
A equipe econômica usa a desaceleração da inflação para justificar cortes mais intensos. O indicador terminou março em alta de 0,16%. É medido pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Houve desaceleração em relação a fevereiro, quando a alta dos preços foi de 0,83%. Em março de 2023, o indicador teve variação de 0,71%. Haddad comemorou o resultado.
A taxa de inflação é usada para medir a variação dos preços. Ou seja, quanto vale o dinheiro de forma real. Em resumo, um produto que custava R$ 100 passa a custar R$ 110 se a inflação ampla variou em 10% para cima.