Por Leandro Manzoni
Investing.com - O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga amanhã (29) o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira no segundo trimestre deste ano. A expectativa dos economistas não é animadora, com as projeções apontando manutenção da letargia da atividade econômica e dificuldades para a retomada do dinamismo. Como o PIB do trimestre anterior teve contração de 0,2%, há receio de que a economia brasileira tenha entrado em recessão técnica entre abril e junho.
A média das estimativas dos analistas disponível no Investing.com confirma o receio de nova retração, com expectativa de queda em 0,2% da atividade econômica no período. Entre os três economistas ouvidos pela reportagem, um segue o consenso do mercado e dois apostam que a economia brasileira evitou a recessão no período com uma pequena alta.
“Investimento continua crescendo muito pouco, contribuição do setor externo é perto de zero e o consumo das famílias permanece em desaceleração, abaixo de 2% ao ano”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, que avalia as dificuldades da economia brasileira sob a ótica da demanda. Diante deste quadro, Gonçalves projeta uma retração de 0,2%, embora aposte em uma alta de 1,2% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. “Se não fosse a greve dos caminhoneiros [que ocorreu no segundo trimestre de 2018], que prejudicou alguns setores por até 2 meses, esta alta seria metade”, prossegue o economista do Fator.
Já André Muller, economista-chefe da AZ Quest Investimentos, tem análise diferente sob a ótica da demanda, apontando melhora do panorama dos investimentos e do consumo da família. “Na demanda privada é que vem um número mais positivo para a taxa interanual (segundo trimestre de 2019 ante o de 2018) de 0,7% de crescimento”, afirma Muller, que mesmo assim estima uma pequena elevação de 0,2% no PIB do segundo trimestre.
Além disso, a avaliação do economista da AZ Quest é de que a economia brasileira tenha se estagnado no primeiro semestre de 2019. “Daqui para frente volta a se recuperar”, diz Muller demonstrando otimismo, com o consumo e o investimento subindo influenciados pela queda da taxa básica de juros conduzida pelo Banco Central e melhora do risco fiscal com a aprovação da reforma da Previdência.
“Há uma melhora na parte agrícola e da parte extrativa no lado da oferta”, explica Adauto Lima, economista-chefe da gestora Western Asset, que aponta a normalização parcial da produção extrativa após a paralisação do setor por causa da tragédia de Brumadinho (MG) em janeiro como um dos responsáveis, ao lado do setor agrícola, pela pequena retomada do crescimento da atividade econômica brasileira no segundo trimestre. Lima projeta, no entanto, uma modesta elevação entre 0,1% e 0,2% no PIB do período em relação ao trimestre anterior.
Confirmação da tendência no Boletim Focus
A eventual recessão ou o baixo crescimento da economia brasileira confirma a revisão do PIB de 2019 ao longo do ano no Boletim Focus, relatório divulgado pelo Banco Central às segundas-feiras com a média do mercado para as principais variáveis macroeconômicas. No último relatório de 2018, a projeção era de um avanço de 2,55% no PIB neste ano. No relatório da última segunda-feira (26), a estimativa caiu significativamente para 0,8%.
“De uma forma geral, pegou de surpresa grande parte dos analistas”, destaca Lima da Western. “Houve uma melhora na perspectiva com o resultado das eleições do ano passado, mas de fevereiro em diante teve aumento da incerteza política com a disputa entre presidente Jair Bolsonaro e o Congresso”, analisa Muller da AZ Quest, apontando a cena política como uma das responsáveis pelo nível baixo do PIB do primeiro semestre e a turbulenta tramitação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. Lima também coloca uma política monetária menos estimulativa que o Banco Central aplicava, a estagnação do mercado de crédito e aspectos internacionais como fatores para dificuldade da recuperação econômica brasileira, que nos últimos quatro anos teve duas fortes retrações e dois crescimentos na casa de 1%.
Em relação à economia global, a crescente tensão da disputa comercial entre EUA e China levaram empresários do mundo inteiro, inclusive no Brasil, a adiar investimentos. “Como tomar decisão de investimento sem saber como aquele país será afetado pela guerra comercial”, diz Lima da Western, que também aponta a frustração com crescimento argentino esperado após a crise cambial do ano passado, graças, em grande parte, à derrota nas eleições primárias do presidente Maurício Macri e de sua plataforma liberal na economia do país vizinho.
Agora, para o segundo semestre, resta saber se a retomada da queda da taxa Selic pelo Banco Central e a aprovação e avanço no Congresso de políticas de ajuste e de incentivo econômico pelo lado da oferta - como a aprovação das reformas da Previdência e tributária e da Medida Provisória da Liberdade Econômica - melhorem a confiança de empresários e famílias para voltarem a investir e a consumir. Caso contrário, resta saber quais instrumentos o governo poderá utilizar para que a economia brasileira retome um crescimento econômico mais robusto nos próximos trimestres.