SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a Selic em sua mínima histórica de 2% ao ano, após nove cortes consecutivos, conforme esperado pelo mercado. Num comunicado sem grandes novidades quanto à política monetária, o colegiado reconheceu que a inflação deve acelerar no curto prazo.
Veja comentários de profissionais do mercado financeiro:
VITOR VIDAL, ECONOMISTA, XP
"Acho que no líquido o comunicado foi neutro. Pode até ter uma interpretação de que para o curto prazo ele foi 'hawkish', mas que para o médio prazo foi 'dovish', já que reduziu a fresta para novos cortes de juros (sem fechar a porta), porém pretende deixar a Selic estável em 2% por um bom tempo, mais de um ano. Estamos considerando ciclo de normalização da política monetária até o fim do ano que vem, com a taxa indo a 3%, conforme o BC já fica atento à meta de inflação de 2022. O 'forward guidance' foi reforçado em relação ao comunicado de agosto, foi mais explorado, e, como esperamos que o choque de inflação seja temporário, vemos o juro estável pelos próximos meses.
LUIZ OTÁVIO DE SOUZA LEAL, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO ABC BRASIL
"Eu acho que é a decisão é compatível com o cenário que a gente tem, ou seja, comparando a situação que a gente tinha na reunião passada com a que a gente teve agora, os principais pontos levantados pelo Banco Central como preocupações e como riscos continuam no mesmo lugar, principalmente a questão fiscal. O fiscal vai ser um assunto, um risco, que vai permanecer durante bastante tempo. Achei interessante nesse comunicado, em termos de recado, a ênfase que o Copom deu ao 'forward guidance'. Acho que, apesar de o colegiado continuar deixando aberto o espaço para novos cortes de juros ou alguma coisa parecida, a partir do momento em que explicita que tem outros instrumentos que não simplesmente a taxa de juros, isso diminui a chance de ele aproveitar esse espaço remanescente que talvez ainda tenha. Nossa percepção é de que os juros vão ficar nesse nível de 2%, certamente, até o fim do ano e bem provavelmente até o terceiro trimestre do ano que vem, considerando que as coisas vão dar certo, Orçamento vai ser equilibrado, recuperação da economia vai se dar de uma forma organizada."
ALEXANDRE ESPIRITO SANTO, ECONOMISTA, ÓRAMA INVESTIMENTOS
"Minha leitura é que o BC encerrou o ciclo de cortes de juros, a não ser que ocorra algo muito fora de esquadro. O texto me passou a sensação de que ele está mais vigilante. Achei até o comunicado um pouco mais 'hawkish' do que estava esperando, do que ele deveria ser numa situação como esta. O BC reconhece a pressão inflacionária, que já está se refletindo na inflação implícita. O BC mesmo diz que a inflação deve subir no curto prazo. O BC diz que não vai mexer na taxa Selic, mas para isso as coisas do lado fiscal têm de acontecer. Não acho que seja algo tão tranquilo (fiscal). O mercado não deve reagir de forma expressiva na quarta, uma vez que os ativos já vinham colocando nos preços essa perspectiva de Selic estável. Eu diria até que, para essa situação fiscal em que estamos, um dólar a 5,27 reais, 5,30 reais já é até convidativo (para compra)."
RENAN SILVA, ECONOMISTA-CHEFE, BLUEMETRIX ATIVOS
"Parece-me que o que pesou bastante com relação à decisão do Banco Central foi exatamente essa vigilância maior sobre esse repique de inflação. Agora eu começo a enxergar um risco real de começar um ciclo, mesmo gradual, de elevação dos juros, mas não para a próxima reunião. Acho que ainda há espaço para uma manutenção até o fim do ano. Mas fica claro que talvez já se dê como encerrado o ciclo de baixa da Selic."
ROBERTO INDECH, ESTRATEGISTA-CHEFE, CLEAR CORRETORA
"O que mais me chamou atenção é o acompanhamento dele (BC) do que tem preocupado o mercado: incerteza com a economia nacional, inflação de alimentos, risco de retirada de estímulos no exterior e cenários fiscal e de reformas. Ficou claro o entendimento do BC de um cenário de incertezas à frente. O ciclo de queda de juros para mim ainda parece em aberto, mas o Copom destacou o número de incertezas. Não vejo o comunicado como gatilho para reações mais fortes nos mercados amanhã, já que investidores vinham nas últimas semanas à espera desse reconhecimento do cenário pelo BC."
(Por José de Castro e Gabriel Ponte)