SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central cortou nesta quarta-feira a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para nova mínima histórica de 2% ao ano, em linha com consenso de mercado, e manteve a porta aberta para novo ajuste na taxa de juros.
Veja comentários de profissionais do mercado:
JOÃO MAURICIO ROSAL, ECONOMISTA-CHEFE, GUIDE
"Acho que o BC está mais preocupado com a atividade, parece mais duvidoso sobre a capacidade de a atividade reagir, e cita isso no comunicado ao falar sobre incertezas para o fim do ano, com menores efeitos dos auxílios emergenciais. No nosso cenário prevalecerá a questão da inflação baixa e da atividade extremamente deprimida, o que nos faz ver como provável outro corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom (15 e 16 de setembro). Porém, o BC tem reagido com muita rapidez às informações que chegam dos dados de alta frequência, então as decisões ficam mais dependentes dos dados disponíveis. E nisso entra um quadro incerto do lado fiscal, com as movimentações em Brasília gerando alguma cautela. Por ora, depois de novo corte de 0,25 ponto na próxima reunião, acreditamos que o BC para."
MAURICIO NAKAHODO, ECONOMISTA SÊNIOR, BANCO MUFG BRASIL
"Na nossa visão é mais forte a ideia de que este foi o último corte do ciclo. A atividade econômica está se recuperando gradualmente e acreditamos que continuará assim nos próximos meses. Vemos uma inflação de 3,5% em 2021, acima da previsão do mercado em geral, então isso, no nosso cenário, seria mais um fator a limitar chances de novas reduções dos juros. E o quadro fiscal, receio de frustração no campo das reformas, incerteza sobre gastos, defasagem da política monetária e dúvidas sobre a eficácia de mais cortes de juros devem levar o BC a adotar postura mais cautelosa."
LUCAS CARVALHO, ANALISTA, TORO INVESTIMENTOS
"Acredito que o espaço da política monetária (para mais cortes) já começa a ficar mais restritivo porque você tem a parte da trajetória fiscal. O comunicado ressalta várias vezes que a continuidade das reformas são extremamente vitais para recuperação e sustentabilidade do ritmo do crescimento econômico brasileiro. Acredito que se fecha o ciclo de quedas para este ano, principalmente com esses planos que estão sendo discutidos no Congresso Nacional, as medidas do governo que impactam fortemente as contas públicas. O texto do comunicado veio muito em linha com a nossa expectativa. O Comitê deixou uma estatística bem pequena, baixa, sobre eventual nova redução."
THOMAS GILBERTONI, ESPECIALISTA DE INVESTIMENTOS, PORTOFINO
"O comunicado veio um pouco mais 'dovish' do que eu esperava. Entendo que o Copom ainda deixa uma frestinha aberta para continuidade do corte. Obviamente, esse corte, se vier, vai ser tão pequeno quanto este de 25 pontos-base. Mas na próxima reunião o BC não deve dar mais nada (de redução de juros) se a questão fiscal preocupar mais. Antes, o Banco Central não enfatizava tanto a questão fiscal, mas agora ele destaca bastante isso, então um novo corte dependerá muito das discussões sobre esse tema, sobre como o Congresso vai agir, as prorrogações dos auxílios."
(Por José de Castro e Gabriel Ponte)