Investing.com – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia nesta terça-feira, 1º de agosto, a reunião de dois dias que vai definir os rumos da taxa básica de juros da economia brasileira, com expectativa de corte na Selic, atualmente em 13,75%. Ao final da discussão, o anúncio sobre o patamar será divulgado em comunicado na noite de quarta-feira, 2.
Apesar da projeção consensual de uma diminuição de 0,25 ponto percentual, economistas vem divergindo de forma mais intensa sobre o tema nas últimas semanas, acrescentando a possibilidade de uma queda de 0,5 ponto. Principalmente após os dados de prévia da inflação oficial, que indicaram menor pressão nos preços. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou deflação (-0,07%) em julho pela primeira vez em dez meses e, assim, o indicador em doze meses passou de 3,40% para 3,19%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de junho também foi negativo (0,08%), menor variação para o mês de junho desde 2017, quando teve deflação de 0,23%. No acumulado de doze meses, a inflação oficial registra elevação de 3,16%.
Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG (BVMF:BMGB4), acredita que o ciclo de afrouxamento monetário deve iniciar com uma redução de 0,25 ponto percentual. “Os índices de preços seguiram evoluindo conforme o esperado, mostrando descompressão mais intensa de bens alimentícios e industriais. Por outro lado, a desaceleração da inflação de serviços segue em um ritmo mais lento. Há sinais de desaceleração da atividade econômica, mas o mercado de trabalho segue resiliente”, detalha, ao apontar que uma postura mais conservadora do Copom neste momento poderá ter papel fundamental na consolidação das expectativas de inflação mais longas.
Paulino Rodrigues, CFO do Banco Mercantil, também aposta em um início de flexibilização monetária com redução da Selic em 0,25 ponto percentual, conforme sinalizado pelo Banco Central na ata da última reunião do Copom e considerando os dados recentes de inflação. “As perspectivas macro também apresentaram melhora, com redução do risco fiscal diante do avanço da reforma tributária e do arcabouço fiscal e upgrade pela Fitch, reforçando essa visão”, destaca Rodrigues.
Por outro lado, o economista André Perfeito avalia que o Banco Central costuma ser mais incisivo em suas definições, com altas e cortes mais fortes do que o esperado pelo mercado e, por isso, acredita em uma retração de meio ponto.
“O Banco Central havia terceirizado para o mercado o início do corte e agora os dados justificam corte e de 0,50 ponto percentual. Uma vez formada a convicção na direção, geralmente os participantes do Comitê são mais intensos do que o mercado projeta”, reforça Perfeito.
No entendimento de Perfeito, as tendências são positivas para indicadores da inflação de serviços, levando a melhorias na curva de juros de curto prazo. No entanto, para o longo prazo, ainda rondam incertezas e cabe ao Banco Central a responsabilidade de mostrar que assegura os mecanismos de retorno da trajetória inflacionária à meta.
“Todo mundo olha a Selic, mas existem juros de longo prazo. Eles são sensíveis a instrumentos que não são somente a taxa Selic. A comunicação vai ser muito importante e há discussão a respeito da defasagem da gasolina, o que pode fazer com que o juro suba. Se não subir a gasolina, pode ser lido como interferência indireta. O mercado não compra isso. E como os juros caíram muito, o mercado vai querer fazer subir, é natural, o mercado não quer ficar de lado”, afirma o economista, que enxerga espaço para futuros novos cortes a depender de como o a autoridade monetária agir para ancorar os juros de médio e longo prazo, que considera mais importantes quando se trata de atividade econômica.
Inflação em 2023
As expectativas dos economistas compiladas no Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, apontam para um indicador de inflação de 4,84% ao fechamento deste ano, com Selic em 12%.
Para o banco BMG, a inflação oficial brasileira ficará ligeiramente acima do teto da meta de 4,75%, com perspectiva de alta de 4,9% para o indicador em 2023. Além da queda da inflação de serviços em um ritmo mais lento, refletindo um mercado de trabalho ainda apertado, o banco espera que o evento climático El Niño possa trazer alguma pressão nos preços dos alimentos no último trimestre do ano, indicando possível aceleração dos índices de preços no final do segundo semestre.
“No geral, há indícios importantes de melhora no quadro inflacionário, fato que deverá permitir o início do processo de redução das taxas de juros no mês de agosto. O Copom deverá iniciar o ciclo com cautela, mas acreditamos que a autoridade monetária seguirá reduzindo a taxa Selic por um bom tempo”, completa Serrano, que espera que a taxa básica de juros encerre o ano de 2023 em 12%.
O banco Mercantil também espera uma inflação acima do limite superior meta neste ano, com indicador de 5%. “Embora o IPCA venha convergindo para a meta, ele tem sido ajudado especialmente por alimentos e energia, que têm um caráter sazonal, enquanto o núcleo de inflação e, por exemplo, os preços administrados, apresentam mais resistência. Portanto, entendemos que a direção é de convergência para a meta, porém ainda vai um tempo para que isso se materialize”, concorda Rodrigues, também com projeção de Selic em 12% ao fim deste ano.
Perfeito lembra que dados do setor de varejo e indicador de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) indicam o esfriamento da economia e o governo “jogou a culpa no BC”, o que faria parte do jogo de pressões. Em um momento de expectativas mais ancoradas e núcleos sendo comportados, o ciclo de cortes pode levar a juros de 11,75% ao final deste ano, com inflação praticamente no teto da meta, ou rompendo um pouco, em sua visão.
Selic x Ações: Futuros cortes nos juros podem impulsionar mais quais ativos? Confira no vídeo abaixo: