Por Leandro Manzoni
Investing.com - A natureza deflacionária dos atuais choques atingindo a economia devidos ao surto de coronavírus deve levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a reduzir entre 0,75 e 1 ponto percentual a taxa Selic ainda nesta segunda-feira (16). Esta é a avaliação do banco UBS em relatório enviado a clientes assinado pelos economistas Tony Volpon e Fabio Ramos.
Os economistas sugerem que não há necessidade de esperar o final da reunião na quarta-feira (18/) para anunciar o corte agressivo na taxa, antecipando a decisão para hoje. Desta forma, a taxa Selic iria para 3,25% ou 3,5% ante 4,25%, renovando a mínima histórica.
Os economistas já estimavam, na semana passada, que os dirigentes do Banco Central do Brasil reduziriam a taxa básica em 50 pontos-base na reunião do Copom agendada para amanhã e quarta-feira, o que levaria a taxa para 3,75%.
A aposta na queda ocorre mesmo com o movimento de depreciação do real em relação ao dólar. Nesta segunda-feira, a moeda americana opera em alta de 2,74% a R$ 4,9912, com máxima em R$ 4,9993 às 15h45.
Ambiente econômico e financeiro justifica corte
A projeção do corte agressivo de 100 pontos-base ocorre com a piora da perspectiva de crescimento econômico global enquanto medidas de distância social são implementadas em vários países, inclusive o Brasil, o que deve interromper o funcionamento das cadeias produtivas.
Além disso, as ações coordenadas por vários Bancos Centrais também embasam a atuação preventiva da autoridade monetária brasileira. Neste domingo, o Federal Reserve cortou a taxa de juros de referência para próximo de 0% e anunciou programa de US$ 700 bilhões em compra de ativos, medidas para manter o mercado financeiro em funcionamento e prevenir os desdobramentos negativos do coronavírus na economia dos EUA.
A flexibilização monetária do Fed foi seguida por outros bancos centrais. O Banco do Japão disse que dobraria sua meta de compra de fundos negociados em bolsa (ETFs, na sigla em inglês) para o equivalente a US$ 112 bilhões.
O Banco da Reserva da Nova Zelândia reduziu sua taxa-chave em 75 pontos-base para 0,25% e disse que não a aumentaria por pelo menos um ano. E o Banco da Coreia do Sul, que já havia resistido a cortes nas taxas, apesar de o país ter sofrido um surto grave de coronavírus, reduziu sua taxa-chave em 50 pontos-base para 0,75%.
Na Europa, Robert Holzmann, um dos membros mais hawkish do conselho de governo do Banco Central Europeu, sinalizou a possibilidade de uma intervenção mais direta para estabilizar os mercados de títulos da zona do euro. "Se houver necessidade de intervir na área de títulos do governo, serão tomadas medidas", disse Holzmann.
Outras medidas para injeção de liquidez
O UBS projeta também a adoção de outras medidas pelo Banco Central para garantir a liquidez do sistema financeiro, entre os quais relaxamento dos requerimentos de provisões, além de novas medidas do programa de intervenção no mercado cambial.
Algumas dessas medidas previstas no relatório foram anunciadas hoje pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em reunião extraordinária, foram aprovadas medidas para facilitar a renegociação de dívidas, dispensando os bancos de aumentarem o provisionamento no caso de repatriação de operações de crédito realizadas nos próximos seis meses.
Em outra medida, o governo ampliou a folha de capital do sistema financeiro nacional em R$ 56 bilhões, permitindo que a capacidade de crédito seja elevada em R$ 637 bilhões.
- Com contribuição de Reuters