Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O setor público consolidado brasileiro teve déficit primário de 131,438 bilhões de reais em maio e viu a dívida bruta ultrapassar o patamar de 80% do Produto Interno Bruto (PIB), renovando seu recorde histórico, em um reflexo dos impactos dramáticos da crise com o coronavírus no front fiscal.
O déficit primário foi o pior dado mensal da série do Banco Central iniciada em dezembro de 2001, informou a autarquia nesta terça-feira. Ainda assim, ele veio ligeiramente abaixo da expectativa de um rombo de 135 bilhões de reais para o mês, conforme pesquisa da Reuters com analistas.
No período, o governo central (governo federal, BC e Previdência) ficou no vermelho em 127,092 bilhões de reais. Enquanto isso, Estados e municípios tiveram déficit de 4,768 bilhões de reais, ao passo que as empresas estatais registraram superávit de 422 milhões de reais.
Na segunda-feira, o Tesouro já havia informado que o déficit do governo central fora afetado pelo diferimento de impostos e pela explosão de gastos para enfrentamento ao surto de Covid-19, com destaque para os mais de 40 bilhões de reais direcionados ao auxílio emergencial.
Em 12 meses, o déficit do setor público consolidado foi a 282,859 bilhões de reais, equivalente a 3,91% do Produto Interno Bruto (PIB).
A projeção de déficit primário para o setor público ainda é de 708,7 bilhões de reais ou 9,9% do PIB, mas deverá ser atualizada nesta terça-feira pela Secretaria Especial da Fazenda, segundo o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.
Ele pontuou que, considerando a renovação do auxílio emergencial, o rombo deverá ir para casa de 850 bilhões de reais, ou 11,5% do PIB.
Nesse quadro, o Brasil caminha para um déficit nominal, que abarca também as despesas com juros, acima de 15% do PIB em 2020, patamar que é projetado para países como os Estados Unidos. Nos 12 meses até maio, o déficit nominal chegou a 8,82% do PIB.
DÍVIDA RECORDE
Diante do forte desequilíbrio entre receitas e despesas em maio, a dívida pública bruta saltou a 81,9% do PIB, sobre 79,8% em abril e estimativa de analistas de que iria a 81,3% do PIB. Com isso, ela renovou seu recorde histórico, que havia sido atingido no mês anterior.
A dívida líquida, por sua vez, foi a 55,0% do PIB, ante 52,8% em abril e projeção do mercado de 54,5% do PIB.
Na segunda-feira, Mansueto estimou que o país encerrará este ano com dívida bruta acima de 95% do PIB e dívida líquida superior a 65% do PIB.
(Por Marcela Ayres; Edição de Camila Moreira)