Os juros futuros fecharam a sessão desta quarta-feira em baixa. O mercado deu sequência aos ajustes técnicos já vistos na véspera. Nesta quarta, houve estímulo pelo desfecho da reunião do Federal Reserve e suas implicações para o Copom, uma vez que com relação às decisões em si havia consenso sobre a manutenção das taxas. O comunicado do Fed trouxe alguma cautela, com as taxas reduzindo de forma pontual o ritmo de baixa, mas posteriormente corrigida pela entrevista do presidente Jerome Powell que animou o mercado sobre o início do ciclo de corte de juros nos EUA em setembro.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,710%, de 10,721% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 estava em 11,62%, de 11,68%. A taxa do DI para janeiro de 2027 caía de 11,95% para 11,83%. A do DI para janeiro de 2029, de 12,11% para 11,96%.
As taxas se alinharam ao alívio da curva americana desde a etapa inicial, deixando de lado a alta do dólar e também a Pnad Contínua, que reiterou a percepção de aperto no mercado de trabalho. O movimento foi conduzido pela esperança de sinais dovish do Fed, que vieram não do comunicado, mas sim das declarações de Powell.
Como previsto, o Fed manteve os juros na faixa entre 5,25% e 5,5%, mas o dirigente admitiu ter havido "discussão real" já na reunião de hoje sobre eventual corte e que uma redução poderia estar na análise da reunião de setembro, caso a inflação continue a recuar em linha com as projeções. Ainda como indicação dovish, ele demonstrou desconforto com a possibilidade de enfraquecimento do mercado de trabalho, ponto também central no mandato dual do Fed. "Estamos olhando com atenção riscos de enfraquecimento substancial do trabalho", disse.
O mercado não somente reforçou as apostas num orçamento total de queda de juros de 75 pontos-base em 2024, como a probabilidade de uma redução de 100 pontos-base, já em 9,4%. A taxa da T-Note de dez anos caía para a faixa de 4,05% no fim da tarde, também em função da piora da percepção de risco geopolítico após o Irã determinar ataque a Israel em retaliação à morte do líder do Hamas em solo iraniano.
O estrategista-chefe do RB Investimentos, Gustavo Cruz, avalia que as indicações do Fed reduzem a necessidade de um comunicado agressivo do Copom nesta noite. "Mesmo quando o Fed começar a cortar, haverá efeito positivo grande para ativos emergentes, reduzindo a pressão no diferencial de juros", afirma.
"Se o comunicado vier duro demais, o mercado pode dar como ainda mais certa a alta da Selic. Mas não precisa voltar a subir", defende Cruz, para quem o mais adequado seria o Copom sinalizar que vai observar como se materializam os efeitos da piora da desancoragem das estimativas e do câmbio.
Para o economista André Perfeito, se confirmado o corte de juro nos EUA em setembro, o BC "ganha graus de liberdade por aqui". "Mesmo com alguma piora na inflação subjacente, bem como no fiscal ainda em dúvida, dificilmente a autoridade monetária irá elevar os juros no Brasil", diz.
"Pelo lado fiscal, também não dá para dizer que não houve avanço nas últimas semanas", complementa Gustavo Cruz, se referindo ao congelamento de R$ 15 bilhões no Orçamento.
É unânime entre os economistas a previsão de estabilidade da Selic em 10,50%, enquanto a curva projeta aposta marginal de elevação de 25 pontos-base. Para o fim do ano, a curva aponta Selic acima de 11%.
"Os dados econômicos de hoje até poderiam inspirar algum cuidado, afinal o mercado de trabalho se mantém forte e sabemos bem como o mercado geralmente reage a estes indicadores, mas tudo continua dentro do script", afirma Perfeito.