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Campos Neto cita temor fiscal e diz que expectativa de inflação elevada não reflete só posição de "malvados da Faria Lima"

Publicado 18.11.2024, 13:21
© Reuters. Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neton09/11/2023nREUTERS/Brendan McDermid
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Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que as taxas de juros longas estão altas no país porque o mercado teme que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não cumpra o arcabouço fiscal e ponderou que as expectativas de inflação elevadas no Brasil não refletem um movimento orquestrado dos "malvados da Faria Lima", em uma referência irônica ao mercado financeiro.

Durante palestra no evento “CEOs Workshop”, promovido pela Consulting House, em São Paulo, Campos Neto afirmou que a questão fiscal do país não é um "desastre iminente" e que ainda há tempo de uma "correção de rota".

O presidente do BC abordou em diferentes momentos os efeitos do fiscal sobre as expectativas de inflação e as taxas de juros.

"Antes que a gente tenha que escutar que na verdade são os 'malvados da Faria Lima' tentando fazer uma expectativa de inflação maior, a gente olha também o que é a expectativa do Firmus, que é a pesquisa que a gente começou a fazer com o mundo real, com as empresas, os empresários", comentou Campos Neto a respeito das projeções de inflação.

"Curiosamente estes (empresários) em geral são mais pessimistas do que os agentes financeiros, não só no Brasil", acrescentou.

No relatório Firmus mais recente, as projeções medianas das empresas consultadas pelo BC apontavam, em agosto, uma inflação de 4,20% para 2024 e de 4,00% para 2025. No fim daquele mês, a projeção mediana das instituições de mercado do relatório Focus era de 4,26% para 2024 e de 3,92% para 2025.

Os comentários de Campos Neto citando os "malvados da Faria Lima" surgem na esteira de críticas, difundidas nas redes sociais, de que instituições do mercado estariam inflando as projeções de inflação contidas no Focus de forma deliberada.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva costuma criticar de forma genérica, em alguns discursos, a Faria Lima -- região de São Paulo que concentra algumas das principais instituições financeiras do país.

No evento desta segunda-feira, Campos Neto também voltou a destacar o fato de as taxas de juros longas no Brasil estarem em patamares elevados em função da desconfiança do mercado em relação à política fiscal do governo Lula.

"As taxas longas estão mais altas exatamente pela percepção (do mercado) de que ‘mudou a meta, não vai... tem o risco de não cumprir o arcabouço'", citou Campos Neto.

"O mercado tem desconfiança. O que produziria grande impacto hoje seria um choque positivo no fiscal", acrescentou.

Nas últimas semanas os ativos no Brasil têm sido impactados pela expectativa do mercado pela divulgação de um pacote fiscal pelo governo Lula -- prometido para depois das eleições municipais e até hoje em negociação dentro do governo em Brasília.

Profissionais do mercado têm repetido que um pacote robusto e crível, com previsão de corte de gastos, teria o potencial de retirar prêmios tanto da parte longa da curva de juros brasileira quanto do câmbio, abrindo espaço para um dólar mais baixo.

© Reuters. Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
09/11/2023
REUTERS/Brendan McDermid

"Não acho que a realidade fiscal do Brasil é um desastre iminente. Temos oportunidade de fazer correções de rota", afirmou Campos Neto. "O mercado acredita que para ter efeito de choque positivo em termos de credibilidade tem que ser muito mais na parte de gastos", acrescentou, sobre a expectativa em torno do pacote do governo.

Segundo o presidente do BC, a política monetária "está, sim, um pouco a reboque da política fiscal", mas ele rejeitou o cenário de dominância fiscal -- situação na qual a alta de juros não produz os efeitos desejados em função de um descontrole das contas públicas.

Ao mesmo tempo, Campos Neto defendeu que o aumento de juros subsidiados pelo governo e das transferências de renda fazem com que a potência da política monetária seja menor. “Precisamos ter o outro lado, o lado da potência da política monetária funcionando”, comentou.

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