Investing.com - A crise política brasileira pode causar efeitos tão graves quanto os impactos econômicos semelhantes ao pior cenário da pandemia do coronavírus no país. Esta é a visão do banco UBS em relatório assinado pelos economistas Tony Volpon e Fabio Ramos. A intensificação da crise política pode criar incertezas e restringir a capacidade de controlar a dívida pública, o que pode mudar o patamar de risco do Brasil e criar incerteza na confiança dos investidores.
O banco compara o cenário de instabilidade política às previsões mais pessimistas do impacto do Covid-19, quando as restrições à economia e à movimentação das pessoas se estenderia até meados de 2021. Neste cenário, a estimativa do UBS é que o PIB do Brasil recuaria -10,1% em 2020, com recuperação de 5,4% no ano seguinte.
O relatório do banco vem em meio a um aumento de tensão entre a equipe econômica e o Congresso na disputa pela metodologia para socorrer estados e municípios. O projeto aprovado na Câmara foi considerado uma grande derrota do governo e a equipe de Guedes trabalha junto ao Senado para desarmar a bomba fiscal.
O próprio ministro viu seu ambiente ficar mais complicado no governo, quando os militares, liderados pelo ministro da Casa Civil, general Braga Netto apresentou o programa econômico Pró-Brasil sem a presença ou participação da Economia. O mercado precificou o problema, antecipando a possibilidade de fim do ajuste fiscal e derrubou a bolsa com o gatilho da saída do Moro disparando as dúvidas em relação ao futuro do governo.
Bolsonaro entendeu o recado e reafirmou a força de Guedes no governo ontem. 'Homem que decide a economia no Brasil é um só: Paulo Guedes', disse o presidente. A rápida reação retomou a confiança dos investidores, que levaram a o Ibovespa a acumular dois pregões de forte alta e retomar os 81 mil pontos pela primeira vez desde meados de março.
Previsões para o PIB
O UBS apresentou também o seu cenário base e uma possibilidade pouco menos otimista. No primeiro, as restrições durariam até a metade de maio, com normalização até o fim de junho, o que levaria o PIB a contrair ‘apenas’ -5,5% neste ano e expandir 6,5% em 2021. No ambiente mais negativo que positivo, em que as restrições começarem a ser retiradas ao fim de junho, com normalização no fim de agosto, o PIB recuaria -7,2% em 2020, com recuperação de +8,3% no próximo ano.
Alguns dados atuais já mostram forte impacto econômico que deverá derrubar o PIB neste ano. De acordo com a UBS, o nível atual de atividade está cerca de 20% abaixo do nível de fevereiro. No entanto, essa atividade deve ser retomada rapidamente após a reabertura econômica e estar apenas 2% menor do que o nível de fevereiro no final do ano. No pior dos cenários, essa diferença poderia ser de 8%.
O UBS não foi a única a reduzir suas projeções de crescimento do PIB brasileiro nesta semana: também na segunda-feira (27) foi dia da Moody’s, que passa a prever queda de -5,2%, e na hoje (28) da S&P Ratings revelou sua previsão de contração de -4,6%.
A agência de classificação Moody’s, que no começo do mês previa que o PIB brasileiro encolheria 1,6% em 2020, cortou também as projeções dos demais países do G20, tendo como justificativa o rápido acúmulo de custos da pandemia do coronavírus. Para 2021, a Moody’s vê crescimento de 3,3% para o PIB brasileiro.
A S&P Global Ratings, por sua vez, tinha previsão de queda de -0,7% do PIB brasileiro no início do mês, mas já acenava para risco de baixa. Segundo a agência, os efeitos das medidas de contenção da pandemia no país levarão a uma menor confiança dos investidores e a uma volatilidade no mercado financeiro, provocada por restrições do consumo e do investimento.
Para 2021, a previsão para o PIB do Brasil é também de recuperação de 3,3%.