Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro subiram 1,1 por cento em agosto sobre julho, maior avanço em um ano e acima do esperado, mas o movimento foi considerado apenas pontual por especialistas em meio ao cenário de fraqueza da atividade econômica.
Na comparação com agosto de 2013, as vendas varejistas recuaram 1,1 por cento, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
O número mensal de agosto é o maior desde julho de 2013, quando as vendas cresceram 2,6 por cento, e ainda ficou acima da expectativa de alta de 0,75 por cento em pesquisa da Reuters. [nL2N0S826Z]
Porém, representou apenas o terceiro mês neste ano em que as vendas ficaram no azul na comparação mensal. "Foi um resultado positivo, mas não dá para falar ainda em recuperação. As famílias consumiram mais em agosto depois de alguns meses de demanda reprimida", destacou a coordenadora da pesquisa no IBGE, Juliana Vasconcelos.
Analistas concordam com a avaliação, destacando que o número sugere mais um ajuste técnico do que mudança de tendência em meio ao cenário pouco propício para o consumo com o alto endividamento das família, a taxa de juros elevada e a inflação alta.
"O patamar estava bem baixo, então é mais uma reversão do que recuperação. Não devemos observar mais taxas expressivas como essas neste ano porque a confiança continua em nível baixo", disse o economista da MCM Consultores Associados Leandro Padulla.
O IBGE informou que o volume de vendas em sete das oito atividades pesquisadas no varejo restrito subiram em agosto na comparação mensal, com destaque para os segmentos Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (+7,5 por cento) e Tecidos, vestuários e calçados (+3,2 por cento).
O único recuo foi registrado por Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, de 0,1 por cento no período.
O IBGE informou ainda que a receita nominal do varejo teve alta de 1,3 por cento em agosto sobre o mês anterior, com avanço de 5,2 por cento na base anual.
Já o volume de vendas no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, caiu 0,4 por cento em agosto sobre o mês anterior, pressionado pela queda de 2,5 por cento de Veículos e motos, partes e peças no período.
ELEIÇÕES
O setor varejista brasileiro enfrenta um cenário de confiança do consumidor debilitada e fraca atividade, temas em destaque da disputa presidencial entre a presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição, e o candidato do PSDB, Aécio Neves.
Segundo o IBGE, o próprio período de eleições pode ser um freio para o consumo das famílias devido às incertezas sobre o futuro. "Esse é um ano de eleição e de expectativa e, nesse caso, o consumo das famílias sofre influência também", disse Juliana, do IBGE.
A fraqueza das vendas no varejo foi um dos fatores que levaram o país a entrar em recessão no primeiro semestre.
"Enquanto tivermos o cenário que aumenta o medo com relação ao desemprego, com taxa de juros e inflação elevados e baixo crescimento econômico, a expectativa é que o consumo continue perdendo força", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Economistas consultados na pesquisa Focus do Banco Central veem crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,28 por cento neste ano, bem abaixo dos 2,5 por cento vistos em 2013.[nL2N0S80HS]
(Reportagem adicional de Felipe Pontes no Rio de Janeiro)