Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O ano de 2020 começou mais fraco do que o esperado para o varejo brasileiro, com janeiro mostrando o pior desempenho em um ano, prenunciando perdas mais intensas à frente como consequência do fechamento de lojas e comércios devido às medidas de combate ao coronavírus.
Em janeiro, o volume de vendas no varejo recuou 1,0% na comparação com o mês anterior na série com ajuste sazonal, ante expectativa de queda de 0,6% em pesquisa da Reuters e no segundo resultado negativo seguido.
Foi o resultado mais fraco para o setor desde dezembro de 2018, quando as vendas recuaram 2,6%, com perdas disseminadas entre as atividades em janeiro. Para o mês, a queda foi a mais intensa em quatro anos.
Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve aumento de 1,3% nas vendas, contra projeção de ganho de 2,5%, de acordo com os dados divulgados nesta terça-feia pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o IBGE, em janeiro ainda não foi registrado qualquer impacto da pandemia.
"Com certeza, com o coronavírus haverá um impacto sobre o comércio e a economia em geral. O tamanho disso ninguém sabe e nem se arrisca em dar palpite", afirmou a gerente da pesquisa, Isabella Nunes.
"O horizonte que se desenha é desafiador. Este ano será sem dúvida de muitas perdas para os setores e entrar janeiro com esse quadro, a situação parece ser crítica. Quem estiver preparado para vendas online vai sair na frente, os menores podem sofrer um pouco, completou.
O varejo terminou o ano passado com ganhos, mesmo tendo perdido força nos últimos meses, em um ambiente de inflação e juros baixos. A lentidão da atividade econômica, entretanto, prejudica o consumo, em um cenário piorado em muito pelas consequências da pandemia do coronavírus no Brasil e no mundo.
Das oito atividades pesquisadas houve quedas em cinco delas. As vendas de Móveis e eletrodomésticos caíram 1,9%, enquanto Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação tiveram perdas de 1,6%.
A atividade de Combustíveis e lubrificantes mostrou recuo de 1,4%, e Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo tiveram queda de 1,2%, com as vendas de Outros artigos de uso pessoal e doméstico perdendo 0,2%.
“O recuo em janeiro é natural, por conta do rescaldo de datas comerciais do fim do ano, como a Black Friday e o Natal”, explicou o analista da pesquisa, Cristiano Santos.
Aumento das vendas foi registrado apenas em Tecidos, vestuário e calçados (1,3%), Livros, jornais, revistas e papelaria (0,2%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,1%).
No varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, o volume de vendas aumentou 0,6% em janeiro sobre dezembro, após recuo de 0,8% no mês anterior.
As vendas de Veículos, motos, partes e peças registrou crescimento de 8,5%, enquanto Material de construção teve queda de 0,1%.
Em 2019, as despesas das famílias cresceram 1,8%, em alta pelo terceiro ano seguido devido à melhora do crédito e liberação do FGTS. Esse desempenho ajudou o Produto Interno Bruto a crescer 1,1% no ano, o desempenho mais fraco em três anos.
Em 2020, entretanto, as paralisações por causa do coronavírus já causam preocupações sobre perdas de emprego e redução de salários, o que deve conter o consumo com força além do fechamento de várias fábricas e comércios.