Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O setor varejista brasileiro vacilou em agosto e registrou queda inesperada nas vendas, a mais intensa desde o final de 2020 apesar da reabertura da economia.
As vendas no varejo tiveram em agosto queda de 3,1%, ficando muito aquém da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,7%, mostraram os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foi a queda mais forte desde o recuo de 6,1% visto em dezembro de 2020, marcando também a mais intensa para meses de agosto desde o início da série histórica.
Ainda assim, o comércio varejista está no momento 2,2% acima do patamar pré-pandemia, embora já tenha chegado a ficar mais de 5% acima, segundo o IBGE.
Em relação a agosto de 2020, as vendas recuaram 4,1%, contra expectativa de um avanço de 2,0%, na primeira variação negativa após cinco meses de alta.
"Temos vários elementos para além da questão sazonal para essa amplitude negativa. Até julho o comércio tinha um patamar alto e bem perto do recorde de novembro de 2020", disse o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
"(Mas também) a inflação segue pressionando e sendo importante para o indicador. E a retração na renda compromete e retira um poder de compra e uma capacidade de consumo das famílias brasileiras", completou.
O cenário atual ainda é de elevação dos juros, o que encarece o crédito --no mês passado, o Banco Central elevou a taxa básica Selic a 6,25% ao ano
ARTIGOS PESSOAIS E SUPERMERCADOS
Das oito atividades pesquisadas, em agosto seis apresentaram perdas nas vendas. A maior influência negativa partiu da queda de 16% de Outros artigos de uso pessoal e doméstico --composta por exemplo por grandes lojas de departamentos-- na comparação com julho.
De acordo com o IBGE, a queda nessa atividade se dá depois de o consumo ter sido antecipado em julho diante de descontos dados pelos varejistas.
Também recuaram no período os setores de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,7%), combustíveis e lubrificantes (-2,4%), móveis e eletrodomésticos (-1,3%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%).
“Hiper e supermercados, assim como combustíveis e lubrificantes, vêm sendo impactados pela escalada da inflação nos últimos meses, o que diminui o ímpeto de consumo das famílias e empresas", explicou Santos.
Somente Tecidos, vestuário e calçados (1,1%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,2%) apontaram aumento no volume de vendas em agosto.
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, registrou queda de 2,5% em agosto na comparação com julho.
O volume de vendas de veículos, motos, partes e peças teve aumento de 0,7%, mas o de material de construção perdeu 1,3%.