Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -As vendas varejistas no Brasil seguiram em alta em abril, mas iniciaram o segundo trimestre com perda de força e um resultado mais fraco do que o esperado, apesar do impulso de supermercados.
Em abril houve alta de 0,1% das vendas na comparação com o mês anterior, com ganho de 0,5% sobre o mesmo mês de 2022, resultados bem abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters de 0,3% e 0,95%, respectivamente..
Os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram desaceleração em abril, depois de uma alta de 0,8% em março.
“Essas variações perto de zero têm a ver com a conjuntura (econômica), como redução no crédito para pessoa física. Tivemos massa de rendimento real menos intensa e o total de ocupados caiu um pouco. São elementos e indicadores que alimentam essa perda de fôlego do comércio", explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Segundo os dados do PIB divulgados pelo IBGE no começo do mês, o consumo das famílias aumentou 0,2% no primeiro trimestre em relação aos três meses anteriores, sob o impacto da política monetária restritiva e oferta de crédito.
Entre as oito atividades pesquisadas, somente três tiveram resultados positivos em abril. A maior influência positiva foi registrada pela alta de 3,2% de Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, marcando o maior crescimento desde março de 2020 (10,5%).
Esse movimento do setor com maior peso entre as atividades, segundo Santos, deve-se às vendas de Páscoa.
"Hiper e supermercados tiveram desempenho acima da média graças à Páscoa e inflação menor. Como o setor tem peso grande, ajudou a manter uma variação positiva", disse ele, alertando que se o setor fosse excluindo da conta, o resultado geral das vendas varejistas seria negativo.
Também registraram aumento de vendas as atividades de Livros, jornais, revistas e papelaria (1,0%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,3%).
Entre os resultados negativos, destacaram-se Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-7,2%) e Tecidos, vestuário e calçados (-3,7%).
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, houve retração de 1,6% das vendas.
"Com juros altos e crédito mais restrito, e por outro lado com a inflação mais baixa, nesse balanço prevalece o consumo de primeira necessidade em detrimento de bens de maior valor agregado", completou Santos.
Apesar dos dois resultados positivos seguidos das vendas varejistas e uma resiliência maior apresentada no início do ano, analistas avaliam que o setor deve desacelerar à frente. Isso devido aos efeitos do aperto monetário realizado pelo Banco Central, com taxa de juros elevada, principalmente dos segmentos sensíveis ao crédito.
A desaceleração da economia global também deve pesar, com esse cenário geral compensando possíveis benefícios gerados por uma inflação mais fraca.
"...os últimos meses mostram uma certa resiliência do comércio. Apesar disso, mantemos nossa projeção de desaceleração à frente, já que os juros altos e a desaceleração da economia global devem continuar impactando o desempenho do varejo, especialmente os segmentos sensíveis a crédito", disse em nota Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
(Edição de Luana Maria Benedito)