Por Thomas Escritt
BERLIM (Reuters) - A Alemanha encurtou o caminho dos estrangeiros para a cidadania e acabou com a proibição da dupla nacionalidade nesta sexta-feira, aprovando uma lei de naturalização projetada para refletir a realidade de uma sociedade que há muito tempo é etnicamente diversa e para atrair mais trabalhadores migrantes.
A nova lei, uma política da coalizão de partidos de centro e de esquerda do chanceler Olaf Scholz, foi adotada após um debate tempestuoso no Parlamento, durante o qual os parlamentares da oposição acusaram o governo de desvalorizar a cidadania e de aumentar o ônus que a migração está colocando sobre os serviços públicos.
"Dois passaportes é a coisa mais normal do mundo em 2024 e há muito tempo é realidade na maioria dos países", disse a parlamentar social-democrata Reem Alabali-Radovan, nascida em Moscou, filha de pais assírios iraquianos que conseguiram asilo na Alemanha em 1996.
"Nós, os 20 milhões de pessoas de origem migrante, vamos ficar aqui. Este país pertence a todos nós", disse ela, propondo a lei, que precisa ser sancionada pelo presidente Frank-Walter Steinmeier.
A cidadania estará disponível após cinco anos de residência, em vez de oito, em linha com países vizinhos, como a França. Três anos serão suficientes para os "excepcionalmente bem integrados".
A dupla nacionalidade, hoje normalmente permitida apenas para cidadãos de outros países da UE, será autorizada, fazendo com que dezenas de milhares de turcos nascidos na Alemanha se tornem eleitores depois que seus pais e avós contribuíram para a reconstrução do país no pós-guerra.
Até o início deste século, a Alemanha tinha uma das leis de naturalização mais restritivas do mundo, com a cidadania disponível apenas para pessoas que pudessem comprovar até mesmo ancestrais alemães muito distantes.
Os progressistas há muito tempo exigem uma lei de cidadania que reconheça a realidade de que a Alemanha é uma sociedade multicultural e etnicamente diversa desde que os trabalhadores convidados da Itália e da Turquia chegaram para aliviar a escassez de mão de obra na década de 1960.
Mas os partidos também estão competindo para parecerem mais duros em relação à imigração, prometendo acelerar as deportações de imigrantes ilegais, em uma tentativa de conter a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, que vem subindo nas pesquisas em meio a uma economia fraca e frustrações em relação aos serviços públicos.
A AfD, alvo de protestos furiosos nas ruas e pedidos de banimento depois que membros do alto escalão foram flagrados discutindo planos para deportar cidadãos alemães "não assimilados" de origem estrangeira, se opõe à lei, assim como os conservadores da oposição, que alertaram contra a "desvalorização" do passaporte alemão e a importação de divisão.
"Vocês querem criar novos eleitores para si mesmos com essa lei", disse o parlamentar conservador Alexander Throm aos políticos da coalizão. "Mas cuidado: A maioria (dos turcos) que vive aqui vota no AKP e no (presidente turco Tayyip) Erdogan... Vocês estão trazendo o conflito para nós."
As pesquisas mostram que os turcos alemães, muitos dos quais são de origem étnica curda ou árabe, votam em toda a gama de partidos turcos, nenhum dos quais concorre nas eleições alemãs.