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Centro neuropsiquiátrico em Buenos Aires usa arte como instrumento de cura

Publicado 08.08.2011, 06:08
Atualizado 08.08.2011, 07:01

Pilar Sierra.

Buenos Aires, 8 ago (EFE).- A arte se transformou em uma experiência de cura para vários pacientes do Hospital Borda, o maior centro neuropsiquiátrico de Buenos Aires, onde este tratamento cultural proporciona resultados "alucinantes".

À frente desta experiência está o artista Pedro Cuevas, que reabriu no hospital um centro cultural onde os internos canalizam suas emoções através da arte.

A reabertura do espaço, há um ano e meio, mudou a rotina dentro deste hospital de saúde mental já que desde então foi possível perceber "uma melhoria absoluta" nos pacientes que frequentam as salas de criação, segundo afirmou Cuevas à Agência Efe.

Tudo começou quando Daniel Camarero, um dos médicos do hospital, decidiu reabrir o antigo centro cultural do Borda que não funcionava há anos.

Camarero e Cuevas se conheceram e o médico o convidou para restaurar o lugar e virar uma espécie de diretor artístico, enquanto ele se ocuparia da direção geral do centro cultural. Alguns meses depois, o espaço foi tomando forma, sempre com a particularidade de estar encravado em um hospital psiquiátrico.

"No início era impossível, aqui não há estrutura, leis ou normas. Os pacientes fazem o que querem. Mas pouco a pouco fomos aprendendo a nos equilibrar", explicou Cuevas.

Além dos problemas econômicos para conseguir meios para a expressão artística, outra dificuldade era conseguir que os próprios internos acreditassem na iniciativa. "É necessário que tenham vontade. Às vezes preferem ficar jogados na cama. É preciso convocá-los, ir buscá-los. Não há um grupo estável, estrutura nem horários", esclareceu.

Porém, graças às doações de materiais de pintura e escultura e, principalmente, ao entusiasmo conseguiram fazer com que os pacientes se aproximem e criassem um autêntico museu, onde exibem orgulhosos as obras criadas de forma totalmente livre.

Esta oportunidade de se expressar provoca grandes melhorias na saúde mental dos internos, que percebem como sua situação melhora substancialmente. "Começam a gerar vínculos de amizade, humanos. Gente que estava sem visitas, quase abandonada, agora tem amigos. Têm carinho, novas expectativas", comentou Cuevas.

"Penso que com a arte se pode exorcizar todo tipo de problemática que esteja na cabeça de alguém. É possível fazer isso também com um psicólogo, falando, mas se falar é uma forma de expressão, a arte também é", acrescentou.

E, como Cuevas, há muitos criadores comprometidos em prestar seu apoio ao centro cultural: "Neste momento somos um elenco estável de 50 artistas, e no total passaram por aqui uns 300. Vêm doar sua obra, sua arte, seu tempo, fazer algo pelo outro".

Todo este esforço tem o prêmio diário de ver aos pacientes melhorar e o estímulo que representam as exposições no exterior, que tornam os internos artistas reconhecidos, dando-lhes uma "nova vida", considerou Cuevas.

Os internos já expuseram em vários pontos da Argentina, também em Londres e Berlim, vão a salas de exposição, prisões e outros hospitais. E também têm a oportunidade de vender suas obras, considerando as condições de cada caso para não desvirtuar a essência do centro cultural.

"Não fazemos negócios aqui: isto é um museu. Se de repente alguém quer uma obra, fazemos um acompanhamento, cobramos o dinheiro e essa quantia vai para o paciente", declarou Cuevas.

Apesar de toda sua dedicação para reerguer o centro cultural, este artista não quer que sua viabilidade dependa de apenas uma pessoa. Cuevas confessou ser inquieto, apaixonado por viagens, e sua intenção é dotar o local de autonomia para que continue funcionando depois que ele decidir levantar voo.

"Em algum momento vou embora. Eu estudei para ser operador comunitário e nos ensinaram a inserir um projeto em um lugar com carências, dotar o projeto de vida própria e deixá-lo funcionando, para que possa fazer o mesmo em outro lugar. O ideal é que não dependa de mim", concluiu. EFE

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