Buenos Aires, 4 mar (EFE).- A presidente da Argentina, Cristina
Kirchner, lançou hoje uma mensagem contundente aos mercados,
comprometendo-se a fazer o pagamento da dívida externa do país com
reservas monetárias.
A declaração foi dada após a Justiça proibir o governo de quitar
os débitos por meio desta medida, o que levou a governante a afirmar
que a oposição estaria por trás da decisão tentando "destituí-la e
desonrá-la".
Kirchner defendeu, em rede nacional, sua política econômica, e
criticou duramente os opositores após a derrota sofrida pelo governo
- que na quarta-feira já havia perdido a maioria no Senado.
"As dívidas que esta presidente quer pagar, e vai pagar, com as
reservas do Banco Central, de acordo com o que diz a Constituição,
estão depositadas nas contas do Ministério da Economia", afirmou.
"Estamos perante tentativas de cassação evidente por parte de
alguns setores", acrescentou Kirchner, convencida de que a oposição
mantém uma atitude de "vingança institucional".
Também nesta quinta-feira, a Coalizão Cívica (CC) denunciou a
presidente por suposta "desobediência judicial",
"A presidente ignorou uma decisão judicial que a impedia de
utilizar as reservas", disse a deputada Patricia Bullrich.
A CC e outras forças de oposição conseguiram fazer com que a
Justiça impedisse a constituição de um fundo com US$ 6,569 bilhões
provenientes de reservas do Banco Central, cuja criação foi
decretada por Kirchner em dezembro.
A presidente nomeou uma nova líder para a entidade monetária,
Mercedes du Pont, e derrogou o decreto de criação do Fundo, embora
conseguiu os 6.569 milhões de dólares que precisava para o pagamento
da dívida por um giro do Banco Central ao Ministério da Economia.
Depois de assumir o controle na composição das 25 comissões do
Senado, a oposição oficializou a recusa de Mercedes Marcó del Pont
como nova líder do Banco Central por causa do uso das reservas.
"Querem que não paguemos o que outros contraíram como dívida.
Acho isso um abuso de poder, porque quem tem a responsabilidade de
administrar as finanças do país não são os juízes, e sim a
presidente", disse Cristina, qualificando a situação de
"lamentável".
Ela disse que, se recorresse a empréstimos internacionais para o
pagamento da dívida, deveria ser condenada "por administração
fraudulenta" contra os interesses do Estado.
"Atuo dentro da Constituição e das penas previstas por lei. Estou
disposta a enfrentar a condenação de qualquer juiz, mas não a da
história, que seria condenar a Argentina, mais uma vez, ao
endividamento", afirmou.
A governante assinou na segunda-feira o agora suspenso decreto
junto a outro, mais simples, segundo o qual seriam usados US$ 2,187
bilhões das reservas internacionais para pagar dívidas com
organismos multilaterais de crédito. Porém, este não faz parte da
decisão judicial.
Fernández derrubou o decreto assinado em dezembro para a criação
do chamado Fundo do Bicentenário, que tinha US$ 6,569 bilhões de
reservas monetárias previstas, que não foi à frente por supostos
problemas judiciais que traria.
O Banco Central, que tem autonomia na Argentina, usou os US$
6,569 bilhões no mesmo dia em que a presidente assinou a decisão, o
que causou revolta na oposição. EFE.