SÃO PAULO (Reuters) - A XP alterou uma série de previsões macroeconômicas para o Brasil nesta quarta-feira, passando a ver crescimento do PIB acima de 5%, dólar de 5,10 reais, inflação superior a 6% e Selic de 6,5% neste ano, com queda na relação dívida/PIB para em torno de 82%.
A dinâmica da Covid-19 permanece como principal risco ao crescimento da economia local, mas os profissionais avaliam que a campanha nacional de vacinação contra a Covid-19 ganhará tração nas próximas semanas, evitando retrocessos (pelo menos generalizados) no processo de reabertura econômica em curso.
Com uma economia em ritmo mais acelerado, com pressão de custos sobre bens industriais e mudança no cenário de bandeira tarifária para o fim do ano (de amarela para vermelha 2), o país terá inflação mais alta, de 6,2%, ante 5,4% da projeção anterior, distanciando-se ainda mais da meta para 2021 (3,75%) e do limite superior do intervalo de tolerância (5,25%).
"Dois riscos que monitorávamos atentamente se intensificaram. Em primeiro lugar, a elevação além do esperado nos preços de bens industriais ao produtor, medidos pelo IPA. Além disso, a crescente preocupação com a crise hídrica que afeta os preços das tarifas de energia elétrica", disseram.
O IPCA de 2022 também deve ficar maior, com a estimativa agora em 3,8%, de 3,5% antes --acima, portanto, da meta para o ano que vem (3,50%), mas ainda aquém do teto da faixa de tolerância (5,00%).
Custos mais altos vão ser acompanhados por juros mais elevados, com o Banco Central devendo abandonar o discurso de "normalização parcial" das condições monetárias.
A XP passou a ver Selic de 6,5%, taxa indicada pelo BC como neutra --não atrapalha nem ajuda a economia.
"O hiato do produto está se estreitando mais rápido do que o previsto, sugerindo que a economia não precisará mais de estímulos monetários ao longo de 2022. () Além disso, ancorar as expectativas de inflação é mais desafiador com a inflação corrente próxima de 9%", disseram.
Mesmo com a projeção de IPCA de 2022 acima da meta, o BC se limitará a elevar a Selic a 6,5%, por entender que parte relevante das pressões inflacionárias para o próximo ano está relacionada aos preços administrativos. Além disso, o BC aceitará o IPCA um pouco acima da meta para garantir que o hiato do produto continue se fechando no próximo ano, avaliaram os profissionais.
Entre outras mudanças, a XP passou a ver dólar de 5,10 reais ao fim deste ano, ante 5,30 reais do cálculo anterior. Os modelos, segundo Victor Scalet, estrategista macro da XP, indicam até uma taxa de câmbio mais apreciada, amparada pela dinâmica das contas externas e pela recuperação da atividade, mas riscos fiscais com componentes estruturais e agudos ainda devem manter o dólar acima dos 5 reais.
Ainda assim, o risco fiscal mais imediato foi mitigado com a resolução do Orçamento, entre outras razões, o que foi determinante para a melhora da expectativa para a taxa de câmbio.
A dívida bruta sobre o PIB deverá ficar em 82,2% neste ano, 6,6 pontos percentuais abaixo do nível registrado no final de 2020, de acordo com a XP. "O crescimento expressivo do PIB nominal (16% em relação ao ano passado), as devoluções do BNDES e a redução da projeção de déficit primário explicam a dívida mais baixa", disse a XP.
(Por José de Castro)