RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Anistia Internacional alertou nesta quinta-feira para a violência crescente em todo o Brasil, e em particular para os assassinatos cometidos por policiais em meio a confrontos com criminosos no Rio de Janeiro.
Em um relatório para a Organização das Nações Unidas (ONU), que monitora periodicamente a violência em zonas de conflito e em áreas conturbadas de todo o mundo, o grupo de direitos humanos enfatizou o aumento recente dos assassinatos pelas mãos de policiais do Rio – 182 nos dois primeiros meses do ano, ou 78 por cento a mais que um ano antes.
"O Brasil não tomou medidas suficientes para lidar com os níveis chocantes de violações de direitos humanos no país, incluindo as taxas de homicídios policias em ascensão", disse Jurema Werneck, diretora da Anistia no Brasil, em um comunicado.
A crítica ocorre num momento em que as forças de segurança, já às voltas com cortes de orçamento depois de dois anos de recessão no país e crise no Estado, enfrentam um aumento da criminalidade, com gangues disputando o acesso lucrativo às rotas de droga e aos pontos de venda.
"Nós somos parceiros de toda e qualquer instituição que visa resguardar os direitos humanos. Pela experiência do Rio de Janeiro, quem mais tem sofrido com violação de direitos humanos é a sociedade e os próprios policiais", disse a jornalistas o secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá. "Se a Anistia vier ao Rio, vamos receber com a maior cortesia e paciência."
As gangues também estão lutando para recuperar áreas do Rio que a polícia havia ocupado antes da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.
Os confrontos recentes entre policiais e criminosos causaram trocas de tiros prolongadas e diversas mortes. No início desta semana, criminosos incendiaram ônibus e caminhões na cidade depois de uma operação da polícia.
Há tempos as autoridades reconhecem os abusos de policiais, mas nos últimos anos vinham tendo sucesso na contenção da violência policial.
"O respeito aos direitos humanos está embutido na legislação brasileira", disse a jornalistas o secretário nacional de Segurança Pública, general Carlos Alberto Santos Cruz. "Quando você treina alguém que trabalha em segurança pública está embutido o princípio de respeito aos direitos humanos."
Especialistas em segurança e direitos humanos, porém, afirmam que o Brasil está devendo estes princípios.
Depois que a polícia apreendeu dezenas de armas na esteira da operação desta semana, as autoridades saudaram o confisco como um grande sucesso, mas muitos se preocupam com a existência das armas e o pano de fundo de violência das apreensões.
"Talvez este tipo de apreensão seja uma coisa boa em uma zona de guerra ou em um país de grande estabilidade", disse o ex-comandante de polícia Paulo Storani, que hoje é consultor de segurança. "Mas aqui ela reflete o fracasso do governo e da política."
(Por Rodrigo Viga Gaier e Edson Ribeiro)