Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O governo do presidente Jair Bolsonaro anunciou na noite desta segunda-feira a demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, um movimento para aplacar a maior crise desde o início da gestão, antes do Executivo encaminhar ao Congresso duas das suas mais importantes propostas, o pacote anticrime e a reforma da Previdência.
A saída de Bebianno foi divulgada oficialmente pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, que justificou a saída por razões de "foro íntimo" de Bolsonaro. Em seu lugar, assume em caráter definitivo o general Floriano Peixoto, atual secretário-executivo da pasta e oitavo ministro militar da gestão Bolsonaro, um capitão da reserva do Exército.
A demissão de Bebianno --que presidiu o PSL na campanha vitoriosa de Bolsonaro ao Palácio do Planalto e está no foco da primeira grande crise do governo, envolvendo um suposto financiamento irregular de candidaturas na eleição-- é a primeira baixa no primeiro escalão do governo.
A demissão der Bebianno tenta melhorar o ambiente político para o Planalto, na semana em que apresentará ao Congresso as duas principais propostas de início de gestão —o pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, na terça-feira e a reforma da Previdência no dia seguinte.
Em um vídeo veiculado nas redes sociais, Bolsonaro elogiou o trabalho de Bebianno tanto à frente da campanha como também no comando do ministério. Sem dar detalhes, Bolsonaro deu sua explicação sobre o episódio que levou à demissão do ministro.
"Comunico que desde a semana passada diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação. Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal entendidas de parte a parte, não sendo adequado prejulgamentos de qualquer natureza", disse.
No briefing à imprensa, o porta-voz leu nota do presidente sobre a saída de Bebianno. "O senhor presidente da República agradece a dedicação (de Bebianno) à frente da pasta e deseja sucesso na nova caminhada", disse Rêgo Barros, afirmando que o documento oficializando a saída será assinado nesta segunda.
Questionado, o porta-voz não se estendeu nas respostas sobre os motivos da saída de Bebianno. Ele disse não ter sido verdade que a exoneração do ministro já estava assinada desde o fim de semana e também disse "desconhecer" informação de que teria sido ofertado outro cargo a Bebianno, conforme reportagens publicadas na imprensa.
Bebianno é o principal personagem de uma crise que se arrastou por uma semana, após ter sido chamado de mentiroso pelo filho do presidente, o vereador fluminense Carlos Bolsonaro (PSC), quando disse que havia conversado com o presidente.
Carlos expôs um áudio de Bolsonaro em que o presidente negava ter falado com o ministro. O próprio Bolsonaro endossou a publicação do filho.
No foco, estão denúncias de que, sob a presidência nacional do PSL de Bebianno, candidaturas em Estados teriam cometido irregularidades. Em entrevistas e nota oficial, o ministro negou irregularidade e disse que cabe aos diretórios estaduais responderem por essas acusações.
Parlamentares, ministros e até militares atuaram numa operação para apagar o incêndio e tentar mantê-lo no cargo, mas o acerto desandou após uma conversa entre Bebianno e Bolsonaro.
O porta-voz evitou comentar se teria havido com Bebianno tratamento diferente da situação do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que também foi alvo de reportagens relatando suspeitas de financiamento irregular de campanhas em Minas Gerais, Estado onde era o presidente regional do PSL.