Javier Martín.
Teerã, 12 jun (EFE).- A participação em massa e as denúncias de
irregularidades de parte da oposição marcaram hoje as décimas
eleições presidenciais da era revolucionária no Irã, nas quais o
ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad busca a reeleição.
Desde as primeiras horas da manhã, famílias inteiras foram aos
mais de 49 mil colégios eleitorais espalhados por todo o país em uma
jornada de reivindicação e festa, apenas nublada por alguns atos de
vandalismo.
Segundo os primeiros dados divulgados pelo Ministério do
Interior, a participação rondaria 75%, número recorde que obrigou a
estender durante várias horas o fechamento dos colégios.
Nas ruas de Teerã, as longas filas de eleitores tinham uma cor
quase comum, dependendo do local da capital no qual se encontrassem.
No norte, a zona mais rica da cidade, sobressaiu o verde dos
seguidores do ex-primeiro-ministro Mir Hussein Musavi, principal
rival do presidente.
No sul, onde se concentra a maioria dos bairros mais
desfavorecidos, dominava o verde, branco e vermelho da bandeira do
Irã, adotado por Ahmadinejad.
No entanto, e ao contrário de 2005 quando Ahmadinejad arrasou no
segundo turno, era possível ver muitos partidários de Musavi e dos
outros dois candidatos, o clérigo reformista Mehdi Karrubi e o
conservador Mohsen Rezaei.
"Vou votar em Musavi", admitia à Agência Efe Zahra Montasem, dona
de casa que votou na madraçal (escola muçulmana) Hafez, junto ao
Grande Bazar.
"Mas não é uma questão de liberdade, porque para isso existem
diferentes interpretações. Acho que o que precisamos é de trabalho
para os jovens e luta contra a pobreza, e acho que Musavi pode
regular estes problemas", explicou.
A crise econômica foi, no entanto, uma das principais razões
pelas quais grande parte da população optou por Musavi, de quem se
lembra como um bom gerente durante os anos difíceis em que comandou
o Governo, entre 1981 e 1989, em plena guerra com o Iraque.
"Não podemos dizer que um candidato é mau, no entanto para mim
Musavi é uma boa opção", admitia à Efe uma votante.
"Durante a guerra entre Irã e Iraque demonstrou sua capacidade e
fez tudo a favor do povo. Baixou a inflação. Eu acho que por aqueles
bons resultados durante seu mandato, o povo agora está votando
nele", explicava na madraçal Ershad, no centro norte da capital.
A poucos metros, Ibrahim Yazdi, primeiro-ministro de Assuntos
Exteriores da República Islâmica, tesoureiro de seu fundador, o
aiatolá Ruhollah Khomeini durante o exílio em Paris e agora um dos
homens mais críticos com o regime, revelava à Efe que prefere o
ex-primeiro-ministro.
"Votei em Musavi. Acho que é uma boa opção, se não o fosse não
votaria", afirmou.
Mais ao sul, nos arredores do Grande Bazar, um funcionário
público assegurava que votou em Ahmadinejad me sentia satisfeito com
seu trabalho
"Embora tenha havido problemas, no entanto eu estou satisfeito
com ele. Acho que não roubou o dinheiro do povo", declarou.
Opinião parecida mereceu o presidente de Ali Ghanbari, que
assegurou que Ahmadinejad "é uma boa pessoa que trabalhou para o
povo".
A festa eleitoral foi, no entanto, ofuscada pelas denúncias de
possível fraude feitas pela oposição e alguns atos de vandalismo
contra sedes reformistas.
Segundo Ali Akbar Mortazaminpour, chefe do comitê de supervisão
dos votos de Musavi, "mais de 40% dos colégios da capital careceram
de observadores".
Aparentemente, muitos dos delegados, tanto de Musavi como de
Karrubi, não puderam exercer sua função já que as credenciais que
receberam "tinham erros, e inclusive fotos trocadas".
Mortazaminpour denunciou também que o citado comitê nacional
emitiu "mais de sete milhões de cédulas a mais do que as necessárias
para a votação".
Em Queitarieh, uma dezena de milicianos voluntários islâmicos
"Basij" atacaram com bombas de fumaça uma das sedes de Musavi,
embora sem causar feridos.
"Houve muita confusão, mas felizmente não houve feridos. Tivemos
que evacuar o prédio, mas nada mais", explicou um dos afetados.
Os resultados finais, que devem ser validados pelo poderoso
Conselho de Guardiães, serão conhecidos 24 horas depois do
fechamento dos colégios.
No caso de que nenhum dos quatro candidatos consiga mais de 50%
dos votos emitidos e considerados válidos, deverá ser realizado um
segundo turno, já previsto para a próxima sexta-feira. EFE