Por John O'Donnell e Paul Carrel
FRANKFURT (Reuters) - A compra de títulos de governos e de outras dívidas por parte do Banco Central Europeu (BCE) pode estar protegendo países da zona do euro de qualquer efeito em cadeia decorrente dos acontecimentos na Grécia, disse nesta quarta-feira o presidente do BCE, Mario Draghi.
O BCE deu início na segunda-feira à política de impressão de dinheiro para compra de títulos soberanos, ou "quantitative easing", com o objetivo de sustentar o crescimento e tirar a inflação na zona do euro de níveis abaixo de zero rumo a uma meta de pouco menos de 2 por cento.
"Verificamos também uma nova queda nos rendimentos dos títulos soberanos de Portugal e de outros países que passaram por dificuldades, apesar da renovação da crise grega", disse Draghi em uma conferência em Frankfurt. "Isso sugere que o programa de compra de ativos pode estar protegendo os países da área do euro contra um contágio."
Draghi fez a declaração no momento em que a Grécia entrava em negociações técnicas com seus credores internacionais para chegar a um acordo sobre reformas e desbloquear novos financiamentos, em meio à crescente frustração com o governo grego.
O novo governo da Grécia, de esquerda, se empenha em mostrar aos eleitores que está mantendo a promessa de não trabalhar com a detestada "troika" de credores estrangeiros e, por isso, vem tentando evitar conversas com os inspetores das três instituições no próprio país.
No início desta semana os ministros dedicaram apenas 30 minutos à questão da Grécia em sua reunião mensal, disse uma autoridade da União Europeia, enfatizando que é hora de o governo grego se envolver em negociações sérias e aprofundadas com especialistas das instituições anteriormente conhecidas como "troika".
Sobre as perspectivas para a economia da zona euro, Draghi afirmou que a desaceleração do crescimento foi revertida e que a recuperação deve se fortalecer de forma ampla.
Estimativas atualizadas da equipe do BCE publicadas na semana passada mostraram que o programa de QE vai sustentar o crescimento na zona euro, formada por 19 países, e tirar a inflação de níveis abaixo de zero para até 1,8 por cento em 2017 --em linha com a meta do BCE.
Draghi disse que essas projeções dependem da plena implementação de todas as medidas anunciadas pelo BCE. O banco central pretende comprar 60 bilhões de euros por mês em ativos-- principalmente títulos soberanos-- pelo menos até setembro do próximo ano.