Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Mastercard vai ampliar o uso de canais eletrônicos e sua penetração regional no Brasil, onde o fraco crescimento econômico e a desaceleração da substituição de cheque e dinheiro por cartões têm reduzido à metade o ritmo de expansão na companhia em seu segundo maior mercado mundial.
"É evidente que a velocidade agora é diferente e vamos ter que conquistar novos espaços", disse à Reuters o presidente da MasterCard Brasil e Cone Sul, João Pedro Paro Neto.
A companhia, segunda maior bandeira de cartões de débito e de crédito do mundo, não divulga dados específicos do país, mas ele afirmou esperar que a indústria como um todo avance em torno de 15 por cento em faturamento neste ano.
É cerca de metade do ritmo exibido pelo segmento até o começo da década, apoiado numa combinação de crescimento econômico, estímulo estatal ao consumo e bancarização em massa.
Segundo números mais recentes da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), os pagamentos com cartões somaram 455 bilhões de reais no país no primeiro semestre, alta de 16,3 por cento ante mesma etapa de 2013.
De acordo com Paro Neto, a tendência histórica de maior uso de canais eletrônicos de pagamento ainda manterá o crescimento da indústria de cartões no Brasil por alguns anos, mesmo com o ciclo prolongado de baixa da economia.
Mas a empresa está mexendo para evitar uma desaceleração maior, ampliando parcerias para uso de novos canais eletrônicos de pagamento, fazendo acordos regionais para tentar ampliar a aceitação de cartões em lugares mais afastados dos grandes centros e tentando convencer mais lojistas a aceitarem cartões.
"Temos que estar em mais lugares ao mesmo tempo", disse.
Isso é parte de um movimento mundial, dentro do qual a Mastercard vem buscando se fazer presente em novos canais digitais e costurando parcerias de marketing para ampliar a fidelização de clientes.
A empresa firmou parceria com a Apple para integrar o Apple Pay, sistema em que usuários poderão usar os recém-lançados iPhone 6 Plus e Apple Watch para fazer pagamentos.
A Mastercard também vem firmando parcerias de marketing digital e fidelização. Em julho, concluiu a aquisição da australiana Pinpoint, empresa de programas de recompensa de clientes.
"A ideia é não ficarmos restritos só ao pagamento, mas participar mais de todo o ecossistema, envolvendo o antes e o depois (das transações)", disse Paro Neto.
As iniciativas acontecem num momento de expectativa de desaceleração global das receitas, com a empresa enfrentando fraqueza econômica na América Latina, onde espera dobrar sua receita líquida nos próximos quatro a cinco anos.
No mês passado, a Mastercard divulgou que espera ter em 2014 um crescimento de sua receita no mundo em torno de 11 por cento, no piso da meta de expansão anual nos próximos três anos.
AVERSÃO A CARTÕES
Não bastasse o panorama econômico mais adverso, a Mastercard também tenta superar a resistência de pequenos comerciantes e prestadores de serviço em aceitar cartões no Brasil.
Embora as empresas da indústria de cartões minimizem o fato, esse tem sido um problema persistente no país, com parte dos lojistas oferecendo preço menor a clientes no pagamento com dinheiro ou simplesmente rejeitando receber pagamento com cartões. Esse público é o que geralmente paga maiores taxas percentuais de tarifas às credenciadoras.
O problema pode se agravar nos próximos meses, se a Câmara dos Deputados aprovar um projeto de lei que autoriza lojistas a cobrarem preços diferentes entre compras em dinheiro ou com cartão. O texto foi aprovado no início de agosto pelo Senado.
"A forma de combater isso é mostrar aos lojistas que há um valor potencial para ele quando aceita o cartão, com uma base de dados que mostram hábitos de consumo dos clientes", disse Paro Neto, explicando que a Mastercard vem trabalhando em parceria com credenciadoras para oferecer esses dados aos lojistas.