Alex Segura Lozano.
Washington, 17 abr (EFE).- O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a recuperação econômica na América Latina se fortalecerá este ano até atingir um crescimento de 2%, acima de 1,3% registrado em 2017, segundo a atualização das suas perspectivas econômicas anunciadas nesta terça-feira.
Em sua nova revisão de suas perspectivas mundiais, o Fundo elevou as previsões de crescimento da América Latina para 2018 em um décimo em comparação com janeiro, para 2%, em grande medida pelo impulso do Brasil, que melhorou de 1,9% para 2,3%.
"Vimos uma recuperação generalizada em gastos e investimentos no Brasil, especialmente se voltarmos a 2016, quando a economia estava em recessão. Há uma volta do crescimento positivo, e o baixo nível de inflação também ajudou a reduzir as taxas de juros", explicou hoje o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, na apresentação do relatório de perspectivas globais da organização.
Assim, o Fundo atribui ao "maior consumo e ao maior crescimento em investimentos privados" o aumento de suas estimativas para o Brasil, que verá sua economia crescer 2,3% em 2018 e 2,5% em 2019, dados que foram revisados para cima em quatro décimos com relação à estimativa anterior, realizada em janeiro.
O sólido crescimento do México, que se mantém em 2,3% para este ano, e o aumento das previsões para as economias de Chile (de 3% para 3,4%) e Equador (de 2,2% para 2,5%) contribuíram também para que o FMI aumentasse suas projeções para a região.
O Fundo destacou que a economia do México se beneficiará este ano da revisão para cima do crescimento dos Estados Unidos, que viu sua projeção aumentar em dois décimos, para 2,9% em 2018.
Nesse sentido, o diretor-adjunto do Departamento de Pesquisa do FMI, Gian Maria Milesi-Ferretti, garantiu em entrevista coletiva que a reforma tributária aprovada em dezembro pelo Congresso americano terá um "efeito positivo" na economia mexicana.
Não obstante, Milesi-Ferretti advertiu sobre a grande importância que a renegociação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), agora em sua sétima rodada, tem para o México, cujas exportações majoritariamente têm como destino os EUA.
"Esperamos que o contexto para conseguir um acordo do Nafta siga melhorando. Colocar barreiras à integração (comercial) teria um impacto muito negativo", afirmou Milesi-Ferretti.
O FMI indicou em sua análise que "continua a recuperação gradual do crescimento na América Latina e no Caribe, uma região severamente afetada pela queda dos preços das matérias-primas entre 2014 e 2016".
Depois de registrar um crescimento de 1,3% em 2017, o Fundo espera que o crescimento da América Latina suba progressivamente de 2% em 2018 para 2,8% em 2019, de acordo com sua última atualização.
Os números da região, no entanto, estão lastreados pela profunda crise econômica que vive a Venezuela, com uma recessão estimada de 15% para este ano e de 6% para 2019.
De fato, o FMI prevê que a inflação na Venezuela fique em torno de 14.000% em 2018, alimentada pela perda de confiança na moeda nacional, uma situação agravada pelo colapso na produção de petróleo e sua exportação.
Além disso, alguns países da região viram suas expectativas de desenvolvimento para 2018 serem reduzidas em comparação com as últimas previsões anunciadas em janeiro, entre eles a Argentina, que passou de 2,5% para 2%, a Colômbia (de 3% para 2,7%) e o Peru (de 4% para 3,7%).
A economia argentina, que cresceu 2,9% em 2017, registrará uma expansão moderada em 2018, até 2%, devido "ao efeito da queda da produção agrícola, assim como aos ajustes fiscal e monetário necessários para melhorar a sustentabilidade das finanças públicas e reduzir a alta inflação" do país, diz o relatório de Perspectivas Econômicas Mundiais do FMI.
Na América Central e na região caribenha, espera-se que o Panamá continue crescendo a ritmos superiores a 5%, concretamente 5,6% em 2018 e 5,8% em 2019, e que a economia da República Dominicana tenha um crescimento de 5,5% este ano e de 5% no próximo.
No documento divulgado hoje pela instituição dirigida por Christine Lagarde, o FMI situa o crescimento mundial em 3,9% tanto para 2018 como para 2019, percentuais que coincidiram com a última revisão apresentada em janeiro.
A publicação do relatório coincide com a assembleia de primavera (no hemisfério norte) do FMI e do Banco Mundial (BM), que acontece nesta semana em Washington e à qual estão convocados os ministros da Economia e os governadores dos bancos centrais da maior parte de seus 189 países-membros.
O giro rumo ao protecionismo e o crescente risco de uma guerra comercial entre EUA e China marcarão este encontro, cujos líderes lamentaram que esta disputa ofusque o bom momento econômico global, com crescimento generalizado no mundo todo.
"Que as principais economias estejam flertando com a guerra comercial em um momento de expansão econômica generalizada pode parecer paradoxal, especialmente quando a expansão depende tanto do investimento e do comércio ", disse Obstfeld.
O evento também será cenário de uma cúpula ministerial do G20, que engloba as principais economias avançadas e emergentes, e que este ano será presidido pela Argentina.