Por Andrew Cawthorne e Alexandra Ulmer
SÃO PAULO (Reuters) - Forças da segurança venezuelanas usaram gás lacrimogêneo contra jovens que atiravam pedras e coquetéis molotov nesta segunda-feira, quando a oposição da Venezuela deu início ao segundo mês de protestos contra o presidente socialista Nicolás Maduro.
Com centenas de milhares de pessoas nas ruas de Caracas para marchas de 1º de maio, apoiadores de Maduro vestindo camisetas vermelhas também se juntaram no centro da capital, prometendo defender o governo socialista de 18 anos do país sul-americano.
Vinte e nove pessoas foram mortas, mais de 400 ficaram feridas e centenas foram presas desde o início de abril em manifestações contra Maduro, o impopular sucessor de 54 anos de Hugo Chávez.
“Por nenhuma razão, eles estão começando a nos repreender”, disse o parlamentar Jose Olivares, à medida que tropas da Guarda Nacional usaram gás lacrimogêneo em um distrito no oeste de Caracas durante a manhã contra centenas de pessoas que se juntaram esperando para marchar.
A maior parte se escondeu atrás de árvores e muros, enquanto líderes da oposição sacaram celulares para filmar a Guarda Nacional. Olivares foi ferido na cabeça por uma cilindro de gás, segundo a oposição.
Em outra área, a Guarda Nacional bloqueou manifestantes que seguiam em direção a uma importante rodovia em frente à montanha Avila, na região norte de Caracas. Os partidários da oposição aplaudiram quando os jovens correram para a frente, carregando escudos improvisados feitos de tampas de lixo, madeira e até mesmo uma antena parabólica.
Alguns, usando capacetes de moto, óculos de natação ou bandanas sobre suas bocas, jogaram pedras e bombas de gasolina contra a linha de policiais, com um manifestante gritando "Ninguém dá meia volta!".
"DEFENDER NOSSO PRESIDENTE"
Na região central de Caracas, onde os socialistas tradicionalmente realizaram suas manifestações, apoiadores do governo celebraram um grande boneco inflável de Chávez e protestaram contra “terroristas” da oposição.
“Os trabalhadores estão nas ruas para defender nosso presidente contra a violência de apoiadores do golpe”, disse Aaron Pulido, de 29 anos, trabalhador sindical no departamento de imigração Saime e que participava de manifestação no centro de Caracas, em um mar de bandeiras vermelhas.
“Eles destruíram cinco escritórios do Saime pela Venezuela no mês passado... Nunca há violência em nossas marchas”, acrescentou.
Maduro diz que seus rivais buscam derrubá-lo a força como parte de uma conspiração apoiada pelos Estados Unidos para colocar um governo de direita no comando da Venezuela.
O governo disponibilizou centenas de ônibus para seus apoiadores mas fechou estações de metrô na capital e montou barreiras em estradas, impedindo a mobilização da oposição.
Oponentes do governo pedem por eleições, autonomia do legislativo, onde têm maioria, liberdade para mais de 100 ativistas presos e um canal de ajuda humanitária do exterior para aliviar a brutal crise econômica da Venezuela.
Milhões de venezuelanos lutam para comer três refeições ao dia ou comprar remédios básicos.
“Quem aguenta isto? Tanta fome, miséria, crime... Os preços estão subindo muito mais do que os salários crescem”, disse a funcionária da segurança social Sonia Lopez, de 34 anos, balançando uma bandeira assinada no passado pelo líder da oposição agora preso Antonio Ledezma.
Alguns funcionários do governo reconheceram que foram coagidos a participar de manifestações pró-Maduro nesta segunda-feira. “Estamos aqui porque eles nos mandam. Se não, há problemas”, disse um funcionário de 34 anos de uma companhia estatal de alumínio do lado de fora de um ônibus que saiu da cidade de Ciudad Bolívar, até que a conversa foi interrompida por um supervisor.
(Reportagem adicional de Marco Bello, Diego Ore, Andreina Aponte e Carlos Rawlins)