Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central não tem cronograma preestabelecido para flexibilização da política monetária, afirmou nesta terça-feira o presidente do BC, Ilan Goldfajn, repetindo que há um processo de desinflação em curso mas que sua velocidade segue incerta.
"Qualquer decisão será tomada nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), com base na evolução da combinação dos fatores e nas expectativas e projeções de inflação", afirmou Ilan em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
"É a evolução favorável dos fatores que propicia ao Copom o conforto com suas projeções em direção à meta, que é seu objetivo principal. Em suma, a flexibilização das condições monetárias dependerá de fatores que permitam que os membros do comitê tenham confiança no alcance das metas para a inflação", acrescentou.
Em sua fala inicial, Ilan reiterou a avaliação que o BC já tinha feito no Relatório Trimestral de Inflação sobre as três condições em relação às quais precisa ver melhoria antes de reduzir a Selic.
Sobre a persistência dos efeitos do choque de alimentos na inflação, ele repetiu que evidências recentes indicam que a queda nos preços de alimentos no atacado tem se transmitido para o varejo, e que projeções para subitens de alimentos parecem mostrar maior segurança no processo de reversão do choque de preços nesse setor.
Quanto aos serviços, o presidente do BC repetiu que ainda há sinais inconclusivos quanto à velocidade de desinflação em direção à meta.
Falando sobre os desenvolvimentos no fronte fiscal, Ilan ponderou mais uma vez que há sinais positivos do encaminhamento e apreciação das reformas fiscais, mas que o processo de tramitação ainda está no início e permanecem incertezas quanto à aprovação e à implementação dos ajustes necessários.
Ilan reforçou em diversos momentos a importância da aprovação das reformas para restaurar a confiança dos agentes econômicos e criar condições para a recuperação econômica, com inflação baixa e estável. Sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos, afirmou que ela é eficiente ao atacar um ponto fundamental.
"Acreditamos que o crescimento de gastos nos últimos anos é algo que é o núcleo do problema e tem que ser levado em consideração", disse.
Em outra frente, Ilan também avaliou que é preciso revisitar e propor a modernização do marco legal para atuação do BC.
RESERVAS
Questionado sobre o tamanho das reservas internacionais, Ilan reconheceu que elas têm um custo elevado devido ao diferencial de juros no Brasil e no exterior, mas avaliou que o país se endividou para acumular reservas porque elas funcionam como um seguro necessário.
"Para frente, nós vamos olhar quando acabar essa crise, quando as coisas estiverem mais calmas, vamos avaliar o tamanho das reservas pelo diferencial de juros. E esperamos que ao longo do tempo, se as condições estiverem aqui e sim, se as condições fiscais também nos ajudarem, o diferencial de juros pode ao longo do tempo ir diminuindo com relação ao resto do mundo e talvez torne as reservas menos caras."
Ilan negou que o BC esteja usando o câmbio como instrumento de controle da inflação, do contrário não estaria reduzindo o estoque de swaps como está fazendo. A esse respeito, novamente pontuou que o BC tem diminuído sua posição sem alterar a tendência do mercado de câmbio, mas que o espaço para essa atuação tem se estreitado em função da proximidade da normalização das condições monetárias nos Estados Unidos.
O presidente do BC defendeu ainda que o movimento tem sido feito de forma previsível e transparente. "Quando achamos que o valor (ofertado em swaps cambiais reversos) era elevado, reduzimos esse valor", afirmou.