Por Marcela Ayres
SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta sexta-feira que a retomada da economia brasileira não depende necessariamente do valor do dólar ou das exportações, e reiterou que o regime de câmbio no país é flutuante, após declarações do presidente interino Michel Temer terem embalado a alta da moeda norte-americana.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Temer afirmou que é preciso "manter um certo equilíbrio no câmbio", e reconheceu que a recente desvalorização do dólar ante o real tem sido abordada com preocupação por figuras do setor corporativo. O posicionamento ajudou a divisa a subir nesta sexta, aproximando-se dos 3,20 reais.
"O câmbio quando está estável é melhor do que quando está volátil, ele (Temer) tem razão, é uma boa mensagem. Por outro lado, é importante que isso seja bem entendido. Isto é, vivemos num regime de câmbio flutuante", afirmou Meirelles, após participação em evento do Banco Central em São Paulo.
O ministro defendeu ainda que, apesar do patamar do dólar influenciar as exportações, "no geral, o comércio exterior brasileiro ainda é uma pequena parte do produto".
Meirelles disse, durante sua fala no seminário, que transformar o déficit primário de 170,5 bilhões de reais previsto para o governo central neste ano em superávit não é tarefa trivial depois de uma forte recessão, e que o processo demanda um tempo que vai além de "um ou dois anos".
"É desafio enorme, não é trabalho simples, rápido e não é trabalho linear", avaliou.
O ministro repetiu que o governo aumentará impostos, mas apenas se necessário -- investida que ele afastou no momento.
Ele também destacou ser preciso aprovar a reforma da Previdência após o Congresso Nacional dar aval à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação do ano anterior.
Só assim, disse Meirelles, o controle das despesas primárias será consistente no longo prazo.
Para o ministro, a idade mínima para a aposentaria deve "evidentemente" ser considerada na reforma da Previdência, sendo que isso não penalizará, na sua opinião, os trabalhadores de baixa renda que começaram a trabalhar cedo.
Meirelles argumentou que nessa condição os trabalhadores já se aposentam aos 65 anos, pois não conseguem somar 35 anos de contribuição devido à informalidade de muitos de seus empregos.
"Eles contribuem em média 15 anos", disse.