Por Roberta Rampton e Jeff Mason
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sugeriu de forma forte nesta sexta-feira que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, supervisionou pessoalmente as ocorrências hackers contra emails do Partido Democrata, ações que autoridades de inteligência norte-americanas disseram que tinham como objetivo ajudar o republicano Donald Trump a vencer a eleição de 8 de novembro.
Numa entrevista de fim de ano à imprensa, Obama fez um ataque feroz contra a Rússia, a chamando de um país menor e mais fraco que os Estados Unidos, que “não produz nada que os outros queiram comprar, com exceção de petróleo, gás e armas”.
O comentário mostrou o que Obama chamou de “tristemente deteriorada” relação entre Washington e Moscou, que também têm divergências sobre a guerra civil na Síria.
Perguntado se Putin estaria envolvido pessoalmente nas ações hackers, Obama declarou que “isso aconteceu nos níveis mais altos do governo russo” e que “não muita coisa acontece na Rússia sem Vladimir Putin”.
Contudo, Obama acrescentou que também queria dar mais tempo para que a inteligência norte-americana produzisse um relatório previsto para ficar pronto antes de ele deixar a Casa Branca em 20 de janeiro e de Trump assumir como seu sucessor.
Ele afirmou: “A inteligência que eu vi me dá grande confiança de que os russos realizaram essa ação hacker, a ação no DNC (o Comitê Nacional Democrata) e a ação com John Podesta”, que era o principal assessor de campanha da candidata a presidente democrata, Hillary Clinton.
Obama afirmou ter alertado Putin em setembro para parar de se intrometer nas campanhas políticas norte-americanas, dizendo ao presidente russo para “cortar isso” durante um encontro que tiveram na reunião do G20 na China.
A Rússia nega as acusações norte-americanas de que agiu contra os emails de democratas.
Os emails continham informações constrangedoras, incluindo conversas entre importantes assessores de Hillary que se mostraram chocados sobre a extensão do uso que ela fez de um servidor privado de email quando secretária de Estado.
FBI E CIA
Duas importantes autoridades de governo disseram à Reuters que o FBI dá apoio à visão da CIA de que a Rússia interviu para ajudar Trump a ganhar a eleição presidencial.
Obama deixou o caminho aberto para uma retaliação contra os russos para desencorajar a Rússia e outros países a realizar novas ações hackers.
O presidente declarou que esperava que Trump também se preocupasse com as ações da Rússia e que a investigação não deveria se tornar um “futebol político” entre republicanos e democratas.
Trump tem dito que venceu a eleição justamente e se irritou com as sugestões de que Moscou teria influenciado o resultado. Contudo, durante a acirrada campanha eleitoral, ele publicamente incentivou a Rússia a realizar ações contra emails de Hillary.
O empresário de Nova York falou de forma elogiosa durante a campanha sobre Putin e desde que ganhou o pleito escolheu alguns integrantes para o próximo governo com laços com a Rússia.
Ao mesmo tempo que Obama disse haver tido conversas construtivas com Trump desde a eleição e enfatizado que faria tudo para assegurar uma transição tranquila, o presidente de saída tem criticado os republicanos de forma geral.
Referindo-se a pesquisas que mostram que mais de um terço dos republicanos aprovam Putin, Obama disse que o ícone conservador Ronald Reagan “iria se revirar no túmulo”.
(Reportagem de Roberta Rampton, Jeff Mason e Julia Harte)