Por Daniel Trotta e Philip Pullella
HAVANA (Reuters) - O papa Francisco e o líder da Igreja Ortodoxa russa tiveram nesta sexta-feira uma reunião histórica, quase mil anos depois da ortodoxia oriental ter rachado com Roma, no primeiro encontro entre um papa da Igreja Católica e um patriarca ortodoxo russo.
O papa e o patriarca russo Kirill se abraçaram e se cumprimentaram com um beijo. "Finalmente", disse Francisco, depois que ele e Kirill entraram por portas em lados opostos de uma sala no aeroporto de Havana para iniciar conversas privadas. "Nós somos irmãos."
Os dois líderes religiosos, convidados do governo comunista, trataram da divisão de um milênio entre os ramos ocidental e oriental do cristianismo. Eles fizeram um apelo conjunto pelo fim da perseguição e das mortes de cristãos no Oriente Médio.
"Em muitos países no Oriente Médio e norte da África se exterminam famílias inteiras de nossos irmãos e irmãs em Cristo, povoados e cidades inteiras habitados por eles", disseram em um comunicado conjunto, em aparente referência à violência de grupos militantes como o Estado Islâmico.
"Seus templos estão submetidos a uma bárbara destruição e saques, seus santuários profanados e monumentos destruídos", afirmaram após a reunião em Cuba.
O presidente cubano, Raúl Castro, e o cardeal Jaime Ortega, o principal representante da igreja em Cuba, saudaram o papa Francisco quando ele desceu do avião, minutos antes de o papa se encontrar com o patriarca Kirill.
Francisco, vestido de branco com o solidéu, e Kirill, usando o chapéu largo e comprido que prende uma estola branca sobre o traje preto, deram os braços quando se encontraram dentro do terminal. Eles então se sentaram para uma conversa com assessores do lado.
A expectativa é que eles façam um apelo conjunto pelo fim da perseguição e das mortes de cristãos no Oriente Médio.
O encontro, anunciado há apenas uma semana, também teve tom político, se dando num momento de divergências russas com o Ocidente em relação à Síria e à Ucrânia.
O papa tinha uma programação para permanecer em Cuba por três horas e meia antes de seguir viagem para o México para uma visita de cinco dias.
Kirill chegou em Havana na quinta-feira e também foi saudado por Raúl Castro, aliado da Rússia. Raúl havia recebido o papa Francisco em Cuba cinco meses atrás.
O pontífice argentino teve participação na reaproximação dos Estados Unidos e de Cuba, que retomaram relações diplomáticas no ano passado depois de 54 anos.
Agora, o papa busca reparar uma ruptura muito mais longa. A ortodoxia oriental rachou com Roma em 1054, e hoje a igreja russa conta cerca de 165 milhões dos 250 milhões de cristãos ortodoxos no mundo.
Kirill, que ficará em Cuba por mais tempo, visitará a pequena Igreja Ortodoxa russa do país, construída entre 2004 e 2008 e frequentada por remanescentes russos das décadas de influência soviética em Cuba.
O presidente russo, Vladimir Putin, tem apoiado a igreja, que, por sua vez, dá apoio à política externa do Kremlin, particularmente na Ucrânia e no Oriente Médio.
Putin também melhorou as relações com Cuba, que haviam se deteriorado depois do colapso da União Soviética em 1991.