Por Simon Lewis
NAYPYITAW (Reuters) - A Suprema Corte de Mianmar ouviu nesta terça-feira o recurso de dois repórteres da Reuters que foram presos por violação de uma lei de segredos oficiais dos tempos coloniais, em um caso que provocou dúvidas sobre o progresso do país rumo à democracia.
Os repórteres Wa Lone e Kyaw Soe Oo já passaram mais de 15 meses detidos desde que foram presos em dezembro de 2017, quando investigavam um massacre de civis muçulmanos rohingyas envolvendo soldados de Mianmar.
Um juiz considerou ambos culpados de acordo com a Lei de Segredos Oficiais em setembro e os condenou a 7 anos de prisão.
Ambos continuam separados de suas filhas pequenas. A esposa de Wa Lone, de 32 anos, deu à luz a primeira criança do casal no ano passado, quando seu marido já estava encarcerado.
Kyaw Soe Oo comemorou seu 29º aniversário na prisão de Insein, em Yangon, neste mês.
"Esperamos nos reencontrar como uma família o mais cedo possível", disse a mulher de Kyaw Soe Oo, Chit Su Win, aos repórteres diante do complexo da Suprema Corte na capital, Naypyitaw, após a audiência desta terça-feira. Wa Lone e Kyaw Soe Oo não estiveram presentes.
A condenação dos repórteres foi intensamente criticada por defensores da liberdade de imprensa e por diplomatas ocidentais, aumentando a pressão sobre a líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, ganhadora de um Nobel da Paz que assumiu o poder em 2016 em meio a uma transição do controle militar.
Suu Kyi disse em setembro, uma semana após a condenação, que o caso dos repórteres não tem nada a ver com a liberdade de imprensa, já que eles foram presos por manusear segredos oficiais, não por serem jornalistas.
"A Suprema Corte de Mianmar tem a oportunidade de corrigir o erro judicial grave infligido a Wa Lone e Kyaw Soe Oo nos últimos 15 meses", disse o editor-chefe da Reuters, Stephen J. Adler, em um comunicado.
"Eles são jornalistas honestos e admiráveis que não violaram a lei, e deveriam ser libertados por uma questão de urgência".
Ao justificar a apelação, o advogado dos repórteres, Khin Maung Zaw, citou a falta de provas de um crime e indícios de que a dupla foi incriminada pela polícia.
Depois que a autoridade judicial governamental Ko Ko Maung respondeu, o juiz Soe Naing adiou o caso sem dar uma data para um veredicto.
Em janeiro, o principal tribunal de Yangon, a maior cidade de Mianmar, rejeitou uma apelação.