Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Os produtores rurais de Mato Grosso aumentaram para 33% a aplicação de recursos próprios para financiar a safra de soja 2022/23, alta de 10 pontos percentuais no comparativo anual, diante do aumento das taxas de juros do crédito e custos de produção maiores, disse nesta quarta-feira o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Além disso, o valor dos recursos do Plano Safra foi considerado insuficiente, dado o alto patamar de despesas principalmente com insumos, o que fez o agricultor usar mais dinheiro próprio, disse a coordenadora de Inteligência de Mercado do Imea, Monique Kempa.
O Plano 2022/23 ofertou um recorde de 340,9 bilhões de reais em crédito agrícola, alta de 36% ante a safra anterior, com condições mais favoráveis a pequenos e médios produtores.
A taxa básico de juros do país está em 13,75% ao ano, ante mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia de Covid-19 e que vigorou até março do ano passado.
Segundo o Imea, os sojicultores de Mato Grosso precisaram de 58 bilhões de reais para arcar com despesas da safra atual, ante 30,7 bilhões no ano anterior. Do total, os recursos próprios representam o maior montante, com 18,87 bilhões de reais.
As multinacionais fornecedoras de agroquímicos, fertilizantes, sementes e grãos ficaram na segunda posição como fonte de crédito ao setor no Estado, com 30% do total.
Em contrapartida, agentes financeiros responderam por 19,8% do crédito, sendo 17,34% com recursos livres e somente 2,46% a recursos controlados.
"A aplicação de recursos próprios é o destaque, esse nível de uso de recursos dos produtores para financiar a safra não se via desde 2016/17... E a expectativa é que os custos de produção continuem em altos patamares", disse Kempa.
DESPESAS
Segundo ela, o custo operacional total, que cresceu 50,5% na soja nesta temporada, pode avançar mais 4,8% no ano que vem, para 6.872,58 reais por hectare, puxado por um incremento nos valores de defensivos. Os preços de fertilizantes e sementes podem recuar, ficando mais acessíveis para a safra 2023/24.
No caso do milho e algodão, o Imea espera quedas de respectivos 4,8% e 3% no custo operacional, com a redução nas despesas com adubos pesando mais do que as altas dos defensivos.
A guerra na Ucrânia neste ano gerou incertezas sobre a oferta de fertilizantes pela Rússia e seu parceiro Belarus, dois dos principais fornecedores globais. Consequentemente, houve uma escalada nos preços. O Brasil importa cerca de 85% de sua necessidade de adubos. Com a continuidade das entregas dos produtos, os valores passaram a cair.
"Esperamos mudança no mercado dos fertilizantes", disse a coordenadora do Imea, citando expectativa de queda em torno 15% para os custos com adubos para soja e milho em Mato Grosso.
Por outro lado, a despesa com agroquímicos para a oleaginosa, por exemplo, está estimada em avanço de 20,7%.
"A primeira estimativa para 23/24 é que os custos da soja vão continuar aumentando... Então, é um ponto importante observarmos como virão os recursos do próximo PAP (Plano Agrícola e Pecuário, o Plano Safra)", completou.