Por Leika Kihara e Mfuneko Toyana e Karin Strohecker
TÓQUIO/JOANESBURGO/LONDRES (Reuters) - Assombrados por lembranças de aumentos anteriores dos juros nos Estados Unidos, os bancos centrais do mundo estão se preparando para uma transição à vida com menos estímulo global, com muitos países já sinalizando movimentos para sua saída.
Enquanto o Federal Reserve está publicamente comprometido em manter os juros próximos de zero --e nenhum aumento está previsto até, no mínimo, o final do próximo ano-- os comentários de autoridades sobre as pressões inflacionárias podem se tornar um coro nos próximos meses, tornando a redução uma perspectiva mais concreta e, provavelmente, aumentando a volatilidade nos mercados financeiros globais.
Em algumas economias desenvolvidas, uma retirada do estímulo monetário já está engatilhada.
Enquanto isso, os bancos centrais mais vulneráveis estão fortalecendo seus sistemas financeiros para evitar o tipo de fuga de capitais que atingiu os mercados emergentes em 2013, desencadeada por meros indícios de aperto do Fed após anos de política monetária ultra-flexível implantada durante a crise financeira global.
"Há uma grande divergência entre as economias que estão saindo da pandemia e as que estão atrás nesse processo. Alguns bancos centrais emergentes podem ser forçados a aumentar as taxas para defender suas moedas mesmo ao custo de prejudicar suas economias ainda frágeis", disse Takahide Kiuchi, ex-membro do conselho do banco central do Japão.
"Essa tendência pode se ampliar caso o Fed divulgue sua estratégia de redução nos próximos meses. Isso pode ser um dos riscos para a economia global", disse Kiuchi, atualmente economista do Nomura Research Institute.
O Fed disse que não começará a reduzir seu enorme estímulo até que haja um "progresso substancial" na recuperação do mercado de trabalho nos Estados Unidos.
Embora a recuperação do emprego permaneça em destaque, a inflação mais forte do que o esperado aumenta a possibilidade de o Fed apertar sua política monetária precocemente.
Por enquanto, os mercados estão se preparando para a chance de o banco começar a comunicar sua estratégia de redução no simpósio de Jackson Hole, em agosto, com possível ação no final do ano.
Alguns bancos centrais já estão respondendo.
Em abril, o banco central do Canadá se tornou o primeiro entre as nações do Grupo dos Sete (G7) a retirar o estímulo estabelecido na pandemia, e sinalizou que os juros podem começar a subir em 2022.
O banco central norueguês já anunciou planos para aumentar os juros no terceiro ou quarto trimestre de 2021.
A Nova Zelândia e a Coreia do Sul também deram sinais de que o endurecimento política monetária está na agenda conforme as condições melhoram.
Embora as decisões nesses países sejam principalmente impulsionadas por fatores internos, a eventual retirada do apoio do Fed parece ser um risco global para todos os bancos centrais.
As economias em desenvolvimento enfrentam os maiores riscos do aperto do Fed, que no passado causou oscilações no mercado à medida que o aumento dos juros dos EUA atraiu fundos para ativos em dólar e afastou-os dos mercados emergentes, como aconteceu em 1998 e 2013.
Os mercados asiáticos, epicentro da crise financeira asiática de 1998, permanecem em condições significativamente melhores, com fortes reservas estrangeiras para apoiar qualquer derrocada cambial.
"A desigualdade da economia global atual cria vários riscos para as economias emergentes", disse a ex-autoridade do banco central do Japão Nobuyasu Atago, que agora é economista da Ichiyoshi Securities do Japão.
Os bancos centrais de mercados emergentes mais vulneráveis, como Brasil, Gana e Armênia, já começaram seu ciclo de aperto em meio ao aumento de pressões inflacionárias.
O banco central da Rússia deve aumentar as taxas pela terceira vez consecutiva na sexta-feira, com a inflação bem acima de sua meta, de acordo com pesquisa da Reuters.
Por enquanto, autoridades em lugares como Tailândia, Filipinas e África do Sul acreditam que o Fed não agirá prematuramente e estão confiantes de que sua comunicação com os mercados será transparente, apesar de reconhecerem os riscos.
(Por Leika Kihara em Tóquio, Mfuneko Toyana em Joanesburgo, Karin Strohecker em Longres; Reportagem adicional de Jonathan Spicer em Istambul, Simon Johnson em Estocolmo, Swati Bhat em Mumbai, Gwladys Fouche em Oslo)