Por Heather Timmons e David Lawder
(Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou a fase 1 do acordo comercial com a China como "de longe, o maior acordo já feito", mesmo que nada tenha sido acordado no papel e a maioria das tarifas impostas aos produtos chineses permaneçam em vigor.
Embora ele tenha elogiado a China por concordar em comprar até 50 bilhões de dólares em produtos agrícolas, Trump manteve as tarifas em vigor sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses, levantando preocupações de que a presença de tarifas se torne o "novo normal".
LEIA MAIS - Commodities nesta Semana: Acordo EUA-China Pode Aumentar o Apetite pelo Risco?
A guerra comercial de 15 meses entre o maior importador do mundo e seu maior exportador obrigou os agricultores dos EUA a deixar as culturas no campo apodrecerem depois que os compradores chineses desapareceram, cortando cerca de 850 bilhões de dólares da economia global --valor equivalente ao Produto Interno Bruto da Suíça.
Uma coletiva de imprensa da Casa Branca quase não deu detalhes específicos sobre o acordo e as declarações formais de Pequim foram ainda mais incertas --sugerindo que as autoridades chinesas acreditam que os dois lados na verdade não concordaram com nada.
Dentre os assuntos não abordados estão as principais queixas dos EUA sobre o modelo econômico estatal da China que deu origem à guerra comercial em primeiro lugar, disseram pessoas familiarizadas com as recentes negociações. Os EUA acusam a China de exigir a transferência de tecnologia estrangeira como o preço para fazer negócios em seu território e de subsidiar injustamente empresas estatais, alimentando o excesso de capacidade que invade os mercados globais.
Os Estados Unidos não estão encontrando "flexibilidade ou maleabilidade nessas questões", disse o ex-subsecretário de Relações Internacionais do Tesouro dos EUA, Nathan Sheets.
Especialistas em comércio e analistas de mercado da China dizem que são grandes as chances de Washington e Pequim não chegarem a um acordo sobre qualquer detalhe -como aconteceu em maio- a tempo de uma reunião em meados de novembro entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping. Mesmo se o fizerem, dizem eles, a China estará menos inclinada a fazer as concessões necessárias para uma "fase 2", que é a mais difícil das negociações, optando por conviver com tarifas norte-americanas.
Em 2009, Mohamed El-Erian, da Pacific Investment Management, usou a frase "o novo normal" para descrever um cenário pós-crise financeira de baixo crescimento e baixas taxas de juros.
Uma década depois, o "novo normal" pode estar se tornando indefinido, com tarifas norte-americanas pesadas incidindo sobre a maioria das importações chinesas e tarifas chinesas substanciais pesando sobre a maioria dos produtos norte-americanos -uma pressão constante na economia global e nenhuma mudança fundamental no comportamento de Pequim.