SÃO PAULO (Reuters) - O ano de 2021 será chave para o governo brasileiro revitalizar sua agenda de reformas fiscais, antes das eleições de 2022, e o amplo déficit fiscal e elevado custo do serviço da dívida ressaltam os contínuos desafios para as contas públicas do país, disse a Fitch Ratings nesta segunda-feira, dia da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, ponto de atenção do mercado em relação à agenda reformista.
Embora lembre que os números fiscais do ano passado vieram melhores que o temido e que o juro está baixo, a Fitch avaliou que a taxa Selic deve aumentar neste ano em resposta às recentes pressões inflacionárias.
Além disso, a agência entende que uma estabilização e redução permanente da relação dívida/PIB exigiria diminuição mais rápida do déficit primário e o cumprimento do teto de gastos --o que, por sua vez, demandaria o retorno das reformas.
"No entanto, o cenário político não deixa claro se e quando essas medidas serão aprovadas pelo Legislativo", disse a Fitch, considerando que as eleições municipais do ano passado e as para Câmara e Senado "paralisaram as reformas".
"O governo Bolsonaro fez esforços para construir uma aliança no Congresso para aprová-las, mas sua capacidade de fazê-lo pode ser testada por resistência de interesses individuais, dinâmica política fluida no Congresso e recente declínio nas taxas de aprovação do presidente", disse a Fitch.
A agência prevê que a economia brasileira tenha retraído mais de 4,0% em 2020. O déficit primário deve cair para 3,1% do PIB este ano, ante 9,5% no ano passado.
A Fitch atribui nota "BB-" ao Brasil, com perspectiva negativa, o que "reflete o impacto da pandemia sobre o déficit fiscal e o custo da dívida pública do Brasil, bem como a incerteza persistente quanto às perspectivas de consolidação, dadas as pressões de gastos e as perspectivas incertas de reforma fiscal".
(Por José de Castro)