Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central enviou ofício neste mês ao Ministério da Economia pedindo ao Conselho Monetário Nacional (CMN) a complementação de 437,9 milhões de reais para produção neste ano de cédulas, em meio à avaliação de que não haveria dinheiro físico suficiente para fazer frente à demanda, afetada pela concessão do auxílio emergencial.
Em documento ao qual a Reuters teve acesso, o BC informou que seus estoques e os do Banco do Brasil (SA:BBAS3) não seriam suficientes para atingir o valor projetado para o mês de agosto para o meio circulante médio, de 389,256 bilhões de reais.
No documento, o BC argumentou que a necessidade de criação de um estoque estratégico para atendimento em situações adversas ficou "fortemente evidenciada".
"A manutenção de apenas um estoque de segurança não garante o fornecimento adequado de numerário à sociedade em situações que fujam à normalidade como, no momento, as medidas emergenciais decorrentes do enfrentamento da pandemia da Covid-19", acrescentou a autarquia.
A solicitação indica um agravamento da situação na comparação com maio, quando o BC reconheceu à Reuters que estava preocupado com a questão, mas que havia apenas solicitado à Casa da Moeda a antecipação da produção de 2020. Ou seja, que o quadro demandava a mesma quantidade de cédulas para o ano, mas num prazo mais imediato.
"O Banco Central a partir de maio teve uma revisão do seu cenário e está solicitando ao Conselho Monetário um volume maior de emissão, que chegaria a mais de 100 bilhões de reais de emissão", disse o secretário do Orçamento Federal, George Soares, nesta quarta-feira.
Segundo Soares, o BC informou que se verifica desde abril o crescimento do meio circulante acima de qualquer padrão desde os 26 anos de real. A autarquia teria dito ainda, ao Ministério da Economia, que o cenário de incerteza estimula a população a guardar dinheiro em espécie.
Em seu relatório de receitas e despesas do terceiro bimestre divulgado nesta tarde, o governo elevou em 437,9 milhões de reais os gastos previstos para 2020 com fabricação de cédulas e moedas em função de "necessidade maior de numerário em função principalmente do Programa de Auxílio Emergencial e outros programas assistenciais de transferência de renda".
A Reuters havia adiantado em 8 de maio que o BC pedira à Casa da Moeda, que é responsável pela produção das cédulas, que aumentasse a produção de dinheiro físico a partir daquele mês para fazer frente ao pagamento do auxílio emergencial.
À época, o BC confirmou que estava em negociações com a Casa da Moeda para antecipar o recebimento da produção contratada para o ano.
Com a extensão do auxílio emergencial em mais dois meses, o governo prevê gastar mais 101,6 bilhões de reais com o programa, levando esse total a 254,4 bilhões de reais para cinco meses de duração. O benefício é de 600 reais por mês.
Procurado, o BC não respondeu imediatamente.