BUENOS AIRES (Reuters) - O candidato de oposição à Presidência da Argentina, Alberto Fernández, disse que o país nas atuais condições não pode pagar a sua dívida e que está disposto a participar de uma renegociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo entrevista publicada neste domingo pelo jornal argentino Clarín.
"Eu diria que há uma só realidade indiscutível, e é que a Argentina nestas condições não está podendo pagar as obrigações que assumiu”, declarou Fernández, grande favorito para vencer as eleições de outubro.
“Eu não tenho problema em ajudar o presidente (Mauricio Macri) a renegociar no sentido que eu proponho, mas teria muito problema em ter que ir explicar ao Fundo o que não foi cumprido pelo presidente. Foi isso que expliquei ao presidente”, completou.
A Argentina fechou em 2018 um acordo stand-by com o FMI de 57 bilhões de dólares, no qual o país se comprometeu a um forte ajuste fiscal, que, segundo Fernández, foi um acordo muito “nocivo”.
Fernández, que há uma semana conseguiu ampla vantagem sobre Macri em eleições primárias, afirmou que sem o acordo o país teria cessado pagamentos.
"Temos que entender que estamos praticamente em condições de default, e por isso os bônus argentinos valem o que valem, porque o mundo vê que não é possível pagar. É necessário agir com sensatez, e sensatez é que a Argentina deve cumprir as suas obrigações”, afirmou Fernández, que enfrenta Macri nas eleições gerais de outubro.
Em outra entrevista, Fernández negou que, se eleito, vai fechar a economia. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse que o Brasil poderia abandonar o Mercosul se surgirem problemas com a Argentina no caso de uma vitória da oposição.
"Se Bolsonaro pensa que vou fechar a economia, e que então o Brasil vai sair do Mercosul, ele pode ficar tranquilo, porque não penso em fechar a economia. É uma discussão boba”, afirmou ele ao jornal La Nación.
Os mercados argentinos entraram em colapso nesta semana depois que Fernández, que tem como vice-presidente da sua chapa a ex-mandatária de centro-esquerda Cristina Fernández de Kirchner, teve 15 pontos percentuais de vantagem sobre Macri nas primárias, o que poderia indicar um triunfo no primeiro turno.
O peso se desvalorizou em 17,58% na semana, com um dólar valendo 55 pesos na sexta-feira, apesar da intervenção do banco central.
Fernández, que durante a campanha disse que o dólar estava sendo sustentado a um valor “fictício”, pediu que Macri siga as recomendações do banco central e cuide das reservas internacionais.
"Se na segunda tivessem posto todas as reservas do país, não tinham parado o preço do dólar”, acrescentou.
Fernández, ex-chefe de gabinete do governo de Néstor Kirchner (2003-2007) e de parte do governo de Cristina Fernández, disse que, segundo os seus cálculos, com um dólar a 57 pesos, a inflação fecharia o ano em mais de 50 por cento.
"Se eu termino o mandato e tenho uma inflação de um dígito eu vou estar muito contente. São quatro anos de muito esforço”, declarou.
(Reportagem de Eliana Raszewski)