Por Marcela Ayres
WASHINGTON (Reuters) - O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) planeja divulgar no sábado comunicado com metas conjuntas dos bancos multilaterais de desenvolvimento que deverão envolver o compartilhamento de prioridades e a possibilidade de cofinanciamento de projetos, disse o presidente do banco nesta quarta-feira.
Em uma entrevista à Reuters na sede do banco, o presidente do BID, Ilan Goldfajn, disse que o esforço visa fazer com que os bancos multilaterais trabalhem como um sistema conforme exploram maneiras novas e inovadoras de alavancar a concessão de empréstimos.
Os bancos multilaterais de desenvolvimento (MDBs, na sigla em inglês), que se reúnem no sábado em Washington para um encontro promovido pelo BID, têm sido crescentemente chamados a aumentar o escopo e relevância do seu trabalho em meio às necessidades dos países em desenvolvimento por financiamentos vultosos para fazerem frente à transição climática.
Segundo Goldfajn, um esboço desta nota conjunta deverá ser apresentado na reunião de quinta-feira do G20, às margens das reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, após a presidência brasileira do grupo ter pautado a reforma dos bancos multilaterais como tema para o dia.
"Se tudo correr bem, esse nosso exercício, que é só dos MDBs, vira um insumo principal para o G20 e para a presidência brasileira no plano de ação para os MDBs," ele afirmou.
Um dos instrumentos em relação ao qual o BID faz grandes apostas é o início da canalização dos Direitos Especiais de Saque (SDRs, na sigla em inglês) do Fundo Monetário Internacional através dos MDBs.
Goldfajn disse esperar aprovação do FMI em reunião já marcada para maio, o que abriria caminho para a busca posterior de investidores âncora pelo BID e outros MDBs.
Ele disse que Banco Central Europeu demonstrou postura cautelosa quanto à ao uso dos SDRs com promessas de liquidez, o que provavelmente impediria países do bloco de fazerem investimentos diretos.
Mas Goldfajn ressalvou que esses países poderiam atuar no mercado secundário, o que também seria muito importante para o projeto virar realidade e ganhar tração.
Sobre a emissão de um instrumento de capital híbrido, ele pontuou que a investida depende de decisão da tesouraria do BID, mas que o "preço precisa valer a pena" para a operação ir adiante.
Após tanto o BID quanto Banco Mundial terem publicado relatórios sobre o capital exigível das instituições -- o capital de emergência garantido pelos governos, mas não efetivamente pago, que poderia ajudar os MDBs a expandir sua capacidade de empréstimo-- Goldfajn afirmou que o próximo passo é ter uma conversa franca e ampla com as agências de rating, trabalho que já terá início nesta semana.
Vários estudos têm apontado que os bancos multilaterais poderiam alavancar empréstimos se as agências de classificação de risco considerassem esse capital exigível sem que isso comprometesse a classificações de crédito AAA dos MDBs, que lhes permite contrair empréstimos a taxas baixas no mercado, repassando essa economia para os países em desenvolvimento.