Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro convocou para terça-feira uma reunião com os deputados do PSL fiéis a ele para anunciar sua saída do partido e discutir a formação de uma nova sigla para abrigar Bolsonaro e os cerca de 9 parlamentares que devem acompanhá-lo.
De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, a decisão do presidente de deixar o partido já está tomada, mas não a decisão de para onde ir. O próprio Bolsonaro já afirmou que sua vontade é criar um novo partido e avaliou que com a possibilidade de coleta de assinaturas eletrônicas isso ficou mais fácil.
O deputado pró-Bolsonaro Bibo Nunes (PSL-RS), um dos parlamentares que foi suspenso no mês passado pela direção do PSL, confirmou que a reunião desta terça-feira com Bolsonaro é para discutir a formação de um novo partido. Dizendo considerar-se "de fato fora" do PSL, Nunes disse que a ideia é começar a criação do partido "do zero".
"A ideia é coletar assinaturas por WhatsApp com o reconhecimento facial", disse.
O parlamentar afirmou ainda que o trabalho será de viabilizar a nova legenda o quanto antes, a tempo hábil de registrar candidaturas para a disputa municipal de outubro de 2020 já na nova legenda. Ele espera que o partido seja constituído até fevereiro.
Alguns aliados, no entanto, ainda avaliam que a constituição de um novo partido é complexa e Bolsonaro poderia se associar à nova UDN ou ao Partido Militar Brasileiro, ambos já em processo final de registro no Tribunal Superior Eleitoral.
De acordo com a deputada Carla Zambelli (SP), outra parlamentar suspensa pela direção do PSL e que ainda enfrenta um processo de expulsão, a reunião foi convocada para tratar do futuro da ala bolsonarista, mas o presidente não teria dito aos deputados o que pretende fazer.
"Se ele já tomou uma decisão sobre seu futuro, não nos comunicou. Eu vou para onde Jair Bolsonaro for", disse à Reuters.
Na semana passada, também conversando com um apoiador, ligado ao PSL do Paraná em frente ao Alvorada, Bolsonaro contou que iria chamar a bancada esta semana, mas que não queria falar sobre o passado, mas discutir o futuro. Não deu detalhes, no entanto, sobre seus planos.
A disputa dentro do PSL veio à público no mês passado, depois do presidente ser gravado dizendo a um apoiador para "esquecer o PSL" e que o presidente do partido, Luciano Bivar, estaria "queimado" pelas denúncias de uso de laranjas para recolher recursos do fundo partidário nas últimas eleições.
Desde então, a bancada na Câmara se dividiu, uma disputa violenta pela liderança levou à deposição do então líder Delegado Waldir, com Eduardo Bolsonaro (SP), assumindo o posto.
No entanto, o grupo de Bolsonaro não controla nem a Executiva nacional nem os diretórios regionais, e perdeu espaço no controle do partido e não conseguiu também o controle do fundo partidário destinado ao PSL. A Executiva suspendeu deputados ligados a Bolsonaro, abriu processo de expulsão contra Eduardo Bolsonaro e Zambelli e planeja incluir na lista outros três parlamentares, inclusive Bibo Nunes.
No caso de expulsão, os parlamentares, pela lei eleitoral, podem se filiar a outro partido sem risco de perder o mandato. No entanto, se deixarem o PSL por contra própria, o partido pode pedir seus mandatos, de acordo com a lei da fidelidade partidária.
Já o presidente, por ser detentor de cargo majoritário, pode se desfiliar do PSL sem qualquer risco de perder o mandato.
Bibo Nunes lembrou que no caso de parlamentares mudarem para um partido novo não há problema de mudar de legenda.
"Aí vamos entrar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com pedido de desfiliação por justa causa para levar o tempo de TV e o fundo partidário", disse o deputado.