Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro confirmou a transferência de Onyx Lorenzoni do Ministério da Cidadania para a Secretaria-Geral da Presidência e escolheu o deputado federal João Roma (Republicanos-PE) para substituir Onyx, segundo portarias publicadas em Diário Oficial da União extra desta sexta-feira, em mais um movimento para fortalecer sua relação com partidos do chamado centrão.
Bolsonaro já havia dito recentemente que iria deslocar Onyx para a Secretaria-Geral da Presidência. Ele é um dos aliados mais fiéis do presidente, tendo sido coordenador da sua campanha ao Palácio do Planalto e ministro-chefe da Casa Civil no início do governo.
Onyx ocupará o posto que estava vago desde a ida de Jorge Oliveira para o Tribunal de Contas da União no ano passado. O ministério vinha sendo conduzido de modo interino por Pedro Cesar Sousa.
A novidade é a escolha de Roma, deputado federal de primeiro mandato e que seria próximo ao presidente do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto --chegou a ser seu chefe de gabinete na prefeitura. É o primeiro integrante do Republicanos, partido com forte presença de evangélicos, no primeiro escalão do governo Bolsonaro.
O Ministério da Cidadania responde por programas sociais do governo, como o Bolsa Família, e deverá ser o responsável por cuidar da nova etapa do novo auxílio emergencial --benefício encerrado no final de dezembro que será retomado, conforme autoridades do Executivo e Legislativo, nos próximos meses.
Apesar da pressão de aliados do governo no Congresso, o presidente negou dias atrás que iria fazer uma reforma ministerial, ressaltando que neste momento faria apenas a troca envolvendo Onyx.
A ida de Roma sinaliza uma ampliação da presença de integrantes do centrão no governo --a despeito da promessa de campanha de Bolsonaro de que iria indicar representantes no primeiro escalão por critérios técnicos sem a interferência de partidos políticos. Em junho passado, o governo recriou o Ministério das Comunicações e lá instalou o deputado Fábio Faria (PSD-RN).
"Boa sorte ao novo ministro da Cidadania, João Roma, e ao ministro Onyx Lorenzoni, que assumirá a Secretaria-Geral. Contem comigo para ajudarmos o Brasil!", disse Faria no Twitter.
Além de formarem a base aliada ao governo Bolsonaro no Congresso, os partidos do centrão, em parceria com o Palácio do Planalto, conseguiram eleger no início do mês os novos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
A escolha do novo titular da Cidadania também tem repercussão no DEM, partido presidido por ACM Neto. O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que criticou ACM Neto nas articulações fracassadas em prol de Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa ao comando da Câmara, insinuou ter havido interferência dele na indicação.
"ACM Neto mostrou hoje o seu caráter", disse Maia, no Twitter.
O ex-presidente da Câmara, que deverá deixar o DEM, chegou a dizer que ACM Neto entregou a cabeça do partido de bandeja para o Planalto por não ter trabalhado por Baleia Rossi, no que foi rebatido pelo presidente do partido.
Também no Twitter, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), rebateu Maia.
"Você sabe que essa sua publicação não está correta. ACM Neto não tem participação nenhuma nessa indicação. Inclusive ele me pediu para não fazer, mas eu não tinha condições de retirar o nome do Roma. Se tiver que colocar na conta de alguém, coloque na minha", disse Pereira.
Pouco depois, em nota oficial, o presidente do DEM disse considerar "lamentável" Roma aceitar o cargo de ministro.
"A decisão me surpreende porque desconsidera a relação política e a amizade pessoal que construímos ao longo de toda a vida", disse.
Segundo ACM Neto, se a intenção do Planalto era de intimidá-lo, limitar a expressão das opiniões ou críticas dele, "serviu antes para reforçar a minha certeza de que me manter distante do governo federal é o caminho certo a ser trilhado, pelo bem do Brasil".