Por Steve Holland
WASHINGTON (Reuters) - A China não tem interesse em interferir nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, afirmou o governo chinês nesta quinta-feira, depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, disse acreditar que Pequim tentaria fazê-lo perder sua tentativa de reeleição em novembro.
"A eleição presidencial dos EUA é um assunto interno, não temos interesse em interferir nela", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, a repórteres durante uma coletiva de imprensa.
"Esperamos que o povo dos EUA não arraste a China para sua política eleitoral."
Em uma entrevista concedida à Reuters na quarta-feira, Trump falou da China com dureza e disse que está estudando diversas opções em termos de consequências para Pequim em relação ao vírus. "Posso fazer muita coisa", afirmou.
Trump vem culpando a China por uma pandemia global que já matou ao menos 60 mil pessoas nos EUA, de acordo com uma contagem da Reuters, e lançou a economia norte-americana em uma recessão profunda, ameaçando a esperança de Trump de conquistar mais um mandato de quatro anos.
O presidente republicano, acusado com frequência de não agir rápido o suficiente para preparar a nação para a disseminação do vírus, disse acreditar que a China deveria ter sido mais ativa, comunicando o mundo sobre o coronavírus muito antes.
Indagado se está cogitando o uso de tarifas ou mesmo liquidações de dívidas contra a China, Trump não quis ser específico: "Há muitas coisas que posso fazer", disse. "Estamos investigando o que aconteceu."
"A China fará tudo que puder para que eu perca esta disputa", disse ele, e também que Pequim quer que seu oponente democrata, Joe Biden, vença a disputa para acabar com a pressão que Trump vem fazendo na China em relação a questões comerciais, entre outras.
"Elas usam as relações públicas constantemente para tentar fazer parecer que são a parte inocente", disse ele sobre as autoridades chinesas.
Ele disse que o acordo comercial que finalizou com o presidente chinês, Xi Jinping, que visa reduzir os déficits comerciais crônicos com a China, foi "prejudicado muito duramente" pelos danos econômicos do vírus.
Uma autoridade de alto escalão do governo Trump, que falou sob condição de anonimato, disse nesta quarta-feira que uma "trégua" informal na guerra de palavras, que Trump e Xi acertaram essencialmente em um telefonema no final de março, agora parece ter acabado.
Os dois líderes haviam prometido que seus governos fariam todo o possível para cooperar na contenção do coronavírus. Nos últimos dias, Washington e Pequim trocaram recriminações cada vez mais ásperas sobre a origem do vírus e a reação a ele.
Embora tenham intensificado a retórica anti-China, Trump e seus principais assessores não chegaram a criticar diretamente Xi, que o presidente norte-americano chamou diversas vezes de seu "amigo".
(Reportagem adicional de Matt Spetalnick e Cate Cadell)
((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447759)) REUTERS ES