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Churrasco sai do cardápio na Argentina com inflação perto de 200%

Publicado 11.01.2024, 08:31
Atualizado 11.01.2024, 08:36
© Reuters. Supermercado em Buenos Aires
13/12/2023. REUTERS/Agustin Marcarian

Por Horacio Soria

BUENOS AIRES (Reuters) - A aposentada argentina Susana Barrio diz que não convida mais seus amigos para o tradicional churrasco, ou "asado", já que o dinheiro que recebe não é suficiente diante do rápido aumento dos preços da carne e dos vegetais

A inflação no país provavelmente ultrapassou 200% no ano passado, um dos níveis mais altos do mundo. Os custos dos mantimentos aumentaram de forma particularmente rápida, pesando nos bolsos das pessoas já que os salários e as aposentadorias não conseguiram acompanhar o ritmo.

"Tivemos que eliminar coisas que tornavam a vida um pouco mais alegre", disse Barrio, de 79 anos. "A alegria que me dava convidar meus amigos para um churrasco, o que é típico aqui, agora é impossível."

A inflação deve ter ficado em torno de 28% em dezembro, com os preços dos alimentos subindo ainda mais depois de uma forte desvalorização do peso, segundo pesquisa da Reuters com analistas. Os dados oficiais serão divulgados nesta quinta-feira.

Embora a inflação alta venha afetando a Argentina há anos, a taxa de aumento de preços está agora no nível mais alto desde o início da década de 1990, quando o país estava saindo de um período de hiperinflação.

"Perde-se totalmente a noção dos preços", disse Guillermo Cabral, 60 anos, proprietário de um açougue em Buenos Aires, contando que uma vez disse por engano a um cliente que o preço de uma carne era 35.000 pesos, em vez de 15.000 pesos.

"O cliente sacou o dinheiro para pagar do mesmo jeito."

O presidente Javier Milei, que chegou ao poder graças à irritação dos eleitores com a piora da situação econômica, está procurando empregar medidas de austeridade rígidas para derrubar a inflação, reduzir um déficit fiscal profundo e reconstruir os cofres do governo.

Mas Milei, que está no cargo há um mês, advertiu que isso levará tempo e que as coisas podem piorar antes de melhorar. Muitos argentinos estão apertando ainda mais o cinto, sendo que dois quintos já estão na pobreza.

© Reuters. Supermercado em Buenos Aires
13/12/2023. REUTERS/Agustin Marcarian

"Nada é barato", disse Graciela Bravo, uma aposentada de 65 anos, que disse que agora conta cuidadosamente quantas batatas compra. "Antes você comprava por quilo, agora eu compro três ou quatro batatas para que não estraguem."

Alejandro Grossi, 49 anos, advogado, disse que está cansado de se acostumar com o aumento dos preços após anos de inflação.

"Compro menos coisas para mim do que gostaria, você se adapta", disse ele. "É como se estivéssemos acostumados a isso, já é algo tão natural aqui: inflação e mudança de preços."

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